As religiosas, abertas as clausuras pelo temor das ruínas, que experimentaram os seus mosteiros, procuravam, divididas, ou os ou os campos para o refúgio. Algumas, refugiadas nas cercas dos seus conventos, esperaram clausuradas a misericórdia de Deus. Vagavam por as ruínas os sacerdotes, tanto regulares como seculares, absolvendo a uns, agonizando a outros.
O senhor rei D. José e toda a real família se achavam em uma das reais casas de campo de Belém (excepto o senhor infante D. Manuel que habitava o real Palácio das Necessidades), que não tiveram ruína, e saíram para o campo, onde se formaram grandes barracas de campanha, em que viveram alguns meses, enquanto se não fez o Palácio da Ajuda fabricado de madeiras, que depois ardeu em 10 de Novembro de 1774,. onde em seu lugar se fez o grandioso palácio que ainda não está concluído. O senhor infante D. António mandou fazer na real Quinta da Tapada de Alcântara duas barracas de madeira, como diremos quando tratarmos da sua morte.
Passada a primeira noite em fervorosos clamores e continuados sustos, cresceu a aflição em todos, experimentando a falta dos cabedais, que perdiam, e cuidadosos dos parentes, que lhes faltavam; dispersas a maior parte das famílias, choravam uns a falta dos outros.
Continuava o fogo a devorar aquelas coisas, que o terramoto não havia prostrado; e os ladrões, sem temor de Deus, e dos seus castigos, à vista deles entravam pelas casas e delas tiravam os cofres de dinheiro, as jóias e a roupa. Muitas famílias, cujas habitações não arruinou o terramoto, nem destruiu o fogo, ficaram pobres pelos roubos: atribuíram-se estes a muitos forçados das galés, e criminosos, que então saíram das prisões"...
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