O que se segue é um extracto do livro ARA - Acção Revolucionária Armada que publiquei em 2000 (Ed. D.Quixote)
Em Moscovo conheci Álvaro Cunhal e Francisco Miguel. Um dia depois da minha chegada à capital soviética, nos primeiros dias de Janeiro de 1965, Álvaro Cunhal veio ao Hotel do Partido. Quando desci do quarto e cheguei ao «hall» Cunhal estava com Manuel Rodrigues da Silva. Dirigiu-se para mim, com um aperto de mão vigoroso interrogou-me sobre a viagem, se estava bem alojado, se não me faltava nada.
Não o conhecia pessoalmente mas não foi necessária apresentação para perceber imediatamente com quem estava a falar. O carisma, a desenvoltura de líder, sem excessos, apenas quanto baste, saltava à vista. Conduzindo as operações, Cunhal convidou-nos para tomar o pequeno almoço no restaurante do hotel. Aproveitou para me observar e dar uma informação politicamente correcta, sem chavões, salpicada de notas críticas a aspectos secundários da sociedade soviética.
A conversa, agradável, solta, «fraternal», não era um desperdício de tempo. Era, como depois observei durante dezasseis anos, nas suas intervenções no Comité Central, uma permanente aula política e ideológica de formação de quadros. A rápida e sintética informação sobre a União Soviética caracterizava-se por revelar simultaneamente a grande superioridade do comunismo relativamente ao capitalismo e a capacidade de análise de Cunhal que não deixava em branco as insuficiências o que conduziria qualquer interlocutor a dar uma nota alta ao «líder» e a considerar credível a informação.
No fim do pequeno almoço Cunhal tratou assuntos importantes em breves palavras, dirigidas ao Manuel, relativamente às quais dei mostras de não estar a ouvir e disse, depois para nós dois, que não nos podia acompanhar no programa que os camaradas soviéticos já tinham preparado mas que voltaríamos a ver-nos antes de eu seguir para Cuba. Na realidade três dias depois, após a chegada de Rogério de Carvalho, Cunhal reapareceu para discutirmos sobre a organização que connosco estava a dar os primeiros passos.
O Secretário-Geral estava como na fotografia em que aparece com Humberto Delgado na altura em que o namoro político com o PCP levou o «General sem Medo» à Frente Patriótica de Libertação Nacional. Uma fotografia que circulou pelos corredores da clandestinidade nos anos sessenta e na qual se pode observar Álvaro Cunhal dez anos mais novo do que quando os portugueses o conheceram após o 25 de Abril.
Na capital da União Soviética, Álvaro Cunhal, estava como peixe na água. Mais ainda então, com o afastamento de Krustchev, quatro meses antes, de quem não apreciava as atitudes de extrovertida heterodoxia e a exuberância anti-estalinista.
No fim do pequeno almoço Cunhal tratou assuntos importantes em breves palavras, dirigidas ao Manuel, relativamente às quais dei mostras de não estar a ouvir e disse, depois para nós dois, que não nos podia acompanhar no programa que os camaradas soviéticos já tinham preparado mas que voltaríamos a ver-nos antes de eu seguir para Cuba. Na realidade três dias depois, após a chegada de Rogério de Carvalho, Cunhal reapareceu para discutirmos sobre a organização que connosco estava a dar os primeiros passos.
O Secretário-Geral estava como na fotografia em que aparece com Humberto Delgado na altura em que o namoro político com o PCP levou o «General sem Medo» à Frente Patriótica de Libertação Nacional. Uma fotografia que circulou pelos corredores da clandestinidade nos anos sessenta e na qual se pode observar Álvaro Cunhal dez anos mais novo do que quando os portugueses o conheceram após o 25 de Abril.
Na capital da União Soviética, Álvaro Cunhal, estava como peixe na água. Mais ainda então, com o afastamento de Krustchev, quatro meses antes, de quem não apreciava as atitudes de extrovertida heterodoxia e a exuberância anti-estalinista.