A Gulbenkian vai mostrar-nos 400 obras do
grande Almada Negreiros (1993-1970). Pintura, desenho, vitral, cerâmica,
cinema, teatro, dança, poesia. Tudo. O futurista, o vanguardista, o surrealista
foi amigo de Fernando Pessoa, que o tratava carinhosamente como o "bebé do
Orpheu", amigo de Amadeu Sousa Cardoso, de Sá Carneiro ou Santa Rita
Pintor.
Conheci-o em 1957, em Lisboa, numa
conferência na Sociedade Nacional de Belas Artes, em que ele mostrava os 4
quadros, geometria a preto e branco (aqui em baixo), que estão no Museu de Arte
de Moderna da Fundação Gulbenkian e nos explicava, atónitos, a magia da relação
9-10 e outros conspícuas transcendências exotéricas. Almada a todos
impressionava pela pintura, pela palavra e pela irreverente atitude.
Dois anos mais tarde confraternizei diariamente com o filho,
também José Almada Negreiros como o pai e também ele uma figura, quanto
cumpríamos o serviço militar obrigatório, em Vendas Novas, em Cascais e em
Torres Novas.
Depois do 25 de Abril, já não nos víamos
há muito – “et pour cause” - fui jantar com ele e o Ernâni Pinto Basto a
"O velho Mirante", na Pontinha. Eu e o Ernâni chegamos nuns carritos
rafeiros, de 1200 cc de cilindrada quando o Almada se apeou de um deslumbrante
Porsche. Não nos querendo deixar mal olhou para os nossos carros de pechisbeque
e garantiu " Eh pá, não tenho dinheiro para andar a comprar carros desses
e ter de mudar todos os anos!"
Já ambos nos deixaram.
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Não se distraiam: 400 obras do grande Almada, na Gulbenkian.