2013/07/17

Fugiu para o mais longínquo rincão da Pátria

Procurado por todo o palácio não o encontraram. Só à saída o porteiro explicou: foi para o deserto ou para a selva, uma coisa assim. O porteiro não tem obrigação de dominar inteiramente a geografia e não conhecer as Ilhas Selvagens, o extremo Sul de Portugal, para lá da Madeira, encostadas às espanholas Ilhas Canárias já bem metidas por África adentro.
 
Portugal, após a tentativa de suícidio do governo que o deixou mal morto, atravessa a mais grave crise política dos últimos 40 anos que veio ampliar a já insuportável crise social e económica e o PR que devia estar em Belém, com as mãos bem firmes nos comandos do barco que o governo abandonou, fugiu. Fugiu para o mais longínquo rincão de Portugal habitado apenas pelas cagarras que pelo menos até à chegada de Cavaco Silva nunca "grandolaram", que se saiba, nenhum governante necessitado.
 
- Cagarras?
- São umas gaivotas grandes que se passeiam por meio mundo, mar e terra, todo o Atlântico e todo o continente americano. Desde os confins do Estreito de Magalhães, no extremo Sul, até à América do Norte. Mas, sem nunca perderem o Norte, voltam sempre, fiéis e certinhas, à Selvagem Grande, uma espécie de Maternidade Alfredo da Costa,  para nidificar.
 
Oferece-vos umas fotos que tirei quando lá estive, em julho de 1997, na visita de uma delegação da Comissão Parlamentar de Defesa. Saímos à noite do Funchal para uma fragada da Marinha portuguesa onde dormimos e ao raiar do dia chegámos às Sevagens. As ilhas não têm porto ou mar fundo que permita a aproximação de uma fragata de modo que por uma escada de corda descemos do convés até um bote que nos levou à Selvagem Grande. Visitámos a ilha e observámos as cagarras nos seus ninhos entre rochas. Não nos receberam bem. Ou grasnavam forte e feio ou punham um olhar reprovador em que se lia: mas que pouca vergonha é esta de virem aqui violar a nossa intimidade. Não percebem que isto é Selvagem!
 
No passado de fome da Ilha da Madeira, nos tempos da ditadura, alguns madeirenses iam ali caçar cagarras. Depois, aproveitando o 25 de Abril, as cagarras conseguiram que as ilhas fossem reconhecidas como reserva natural com direito a um vigilante e especialistas estudiosos da biodiversividade.
Os espanhóis ainda hoje teimam em chamar rochedos às ilhas porque como rochedos a delimitação de fronteira marítima das Selvagens deixaria de ser a meio caminho das Canárias e encolheria muitas milhas. Promovidas a ilhas ajudam a que Portugal possua a ZEE maior da UE com 1,6 milhões de Km2 cerca de 16 vezes a dimensão de Portugal. (Clique na imagem para a ampliar)
 
Selvagem Grande                           Fragata e bote para a ilha
 
Cagarra no ninho                             Cagarra no ninho

 
Deputados da Comissão de DN