2013/05/10

Na Polónia, na "Toca do Lobo" de Hitler


 

Agora que se comemora o fim da 2ª GM, a maior barbárie cometida pela civilizada Europa, na qual morreram 50 milhões de pessoas e arrasou dezenas de milhar de cidades e vilas lembrei-me de evocar esta "cena".
 
Aquele tipo que está ali à direita sou eu e o da esquerda, mais velho uns 20 anos, era um dirigente do PC Suíço, homem de vasta cultura e inexcedível simpatia. O local é nem mais nem menos que o do mais célebre quartel-general de Hitler, durante a 2ª guerra mundial (1939-45) conhecido por "covil do lobo" ou "toca do lobo" (Wolfsschanze), escondido numa densa floresta da Mazúria, no nordeste da Polónia, perto da fronteira com a Rússia, a oito quilómetros de Ketrzyn. Em 1940/41 quando o complexo foi construído o território era alemão e dava pelo nome de Prússia Oriental.

Aquela montanha que se vê atrás de nós é de cimento armado e tem 9 metros de espessura. É o tecto do gabinete e dos aposentos de Hitler que ficavam abaixo do solo. Esta monstruosa espessura era graduada conforme a importância dos chefes  nazis e vinha por aí abaixo, com 8, 7, 6 ou 5 metros, para Goering, Himmler, Bormann, Keitel, Goebbels, Todt, Speer,... 
Estávamos os dois, em 1982, a representar os PC dos respectivos países a convite do Partido Operário Unificado da Polónia (o PC polaco) para uns encontros políticos no momento da Festa anual do Tribuna Ludo, o Avante polaco. Fizemos juntos a viagem de Varsóvia até ao bunker nazi e já antes até Cracóvia e tivemos oportunidade de conversar muito sobre os nossos países e a Polónia de Jaruzelski e do Solidariedade de Lech Walesa. Informava-me ele com um certo ar desiludido: "Sabe camarada Narciso, - falávamos em Francês - a Suíça será o último país da Europa a ter o socialismo" - Então pensávamos ambos que, a não ocorrer uma catástrofe telúrica, o comunismo alastraria por toda a Europa (a seu tempo, que eu nunca tive a ilusão que fosse coisa para a minha vida) tão inevitavelmente como em Maio as cerejeiras darem cerejas. Afinal a realidade que não estava a par das nossas esperanças não obedeceu aos planos traçados, como se sabe.
Então porquê? - Questionava-o eu sobre isso da Suíça se atrasar para o comunismo - Sabe, é que não temos classe operária. Os operários são todos italianos, espanhóis, jugoslavos ou portugueses. Fiquei aí a pensar que nos adiantaríamos à reluzente Suiça, o país mais parecido com os respetivos postais ilustrados em todo o mundo. Fiquei com esta opinião quando certa vez depois de conhecer Genève, Zurique, Berna passeando por uma mata suíça admiti que eles até varressem as florestas... tudo tão limpo, tão alinhado, brilhante e certinho, os campos como as cidades, um esplendor.
- Nem no comité central nos entendemos.
Dissidências, está-se mesmo a ver, receei eu mas logo ele adiantou.
- Precisamos de intérpretes do Francês para o Alemão e do Alemão para o Italiano.
A toca do lobo era "um complexo  com cerca de 80 edificações camufladas no coração da floresta polaca, foi um dos principais centros de comando de Adolf Hitler durante a II Guerra Mundial, altamente fortificado, para proteger a elite nazi de bombardeamentos aéreos durante a operação "Barbarrosa", a invasão da ex-União Soviética.Para que o local não fosse detetado do ar, os edifícios foram camuflados, bem como os caminhos, cobertos com redes de folhas simuladas, que eram mudadas de acordo com as estações do ano, para se confundirem perfeitamente com a floresta. O complexo fortificado, estava rodeado por campos de minas que levaram cerca de dez anos a serem removidas."
Na sequência das derrotas frente ao Exército Vermelho a "Toca do Lobo" foi destruida pelos nazis em retirada. "Hitler abandonou o local a 20 de novembro de 1944. Na sua destruição foram utilizados entre 8 a 10 toneladas de explosivos por cada fortificação, mas essa quantidade não foi suficiente para o destruir completamente."
 


"A "Toca do lobo" ficou famosa após uma dramática tentativa falhada de assassinato do ditador nazi, levada a cabo pelo Coronel Claus von Stauffenberg, em  20 de Julho de 1944, que chegou ao cinema através do filme "Valquíria", protagonizado por Tom Cruise." Na sequência do golpe falhado Hitler manda matar mais de 200 pessoas e envia para campos de extermínio mais 5000.  Hitler exige que os conspiradores... sejam enforcados com cordas de piano, penduradas em ganchos de açougue, sendo estas execuções lentas, algumas foram até gravadas para o Führer assistir".
Em 1982, na Polónia, Jaruzelski tinha imposto a lei marcial na sequência das grandes greves e movimentações operárias nos estaleiros de Gdansk mas o ambiente não me parecia ser o de terror ou sequer de grande medo. O meu intérprete que falava um português perfeito mas "brasileiro" depois de alguns dias de contacto e conversas não se inibia de dizer mal, mesmo muito mal, do regime a um... comunista convidado do regime.

2013/05/08

Herói israelita ou herói palestiniano? Ainda que involuntário.

O soldado israelita Gilad Shalit (que também tem a nacionalidade francesa) foi aprisionado pelos palestinianos em 2006 e libertado 5 anos depois, após difíceis negociações e por troca de 1.027 palestinianos prisioneiros em Israel. Hoje é um herói nacional israelita, recebido e incensado pelas mais altas autoridades.
A Israel fazia jeito mais um mito contra os palestinos e criaram um herói.
Agora, após um entrevista a Gilad Shalit, o jornalista do israelense Haaretz, Ben Capit, revela-nos a história, perfeitamente conhecida pelas autoridades de Israel mas desconhecida da população, a história, bem humana, de Gilad Shalit mas sem sombra de heroismo.
Em 25 de Junho de 2006 dois palestinianos do Hamas atravessaram a fronteira de Gaza com Israel através de um túnel e atacaram um carro de combate israelita em Kerem Shalom. O tenente e o sargento receosos da explosão do tank saltaram para o chão e chamaram o soldado Gilad que, naturalmente atemorizado não se mexeu. Teve sorte, os seus camaradas foram mortos de seguida. Pouco depois os palestinos atiraram duas granadas para dentro do tank mas Gilad tinha a sorte do seu lado apenas ficou ligeiramente ferido e saiu colocando no chão a metralhadora M-16. Foi aprisionado. 
Dizem os militares que se em vez de se manter encolhido dentro do tank tivesse subido até à metralhadora do tank, internamente e invisivel de fora, e a tivesse usado após os tiros que atingiram os seus camaradas o resultado teria sido diferente.
O soldado Gilad não se portou como herói nem sequer como um combatente motivado. Jovenzito, 20 anos, metido naquelas alhadas da infinita guerra israelo-palestiniana, com fanáticos terroristas nos dois campos, tentou salvar a vida encolhendo-se. Como soldado que vê os seus camaradas serem abatidos, tendo à mão a arma potentíssima do tank Merkava de 65 toneladas é um comportamento decepcionante. Pode-se aceitar dadas as circunstâncias mas é tudo menos heroísmo.
A sua troca por mais de mil prisioneiros palestinianos tornam-no um herói mas... do Hamas. Ainda que involuntário. Por mim, dadas as circunstâncias,
está desculpado.