2012/12/29

O meu último salário no PCP


 
Como disse no post anterior, à procura de outro papel (também) encontrei este. É o recibo do meu último ordenado no PCP.
Revela que o salário era de 36.045$00. Feitos os descontos, recebi 31.200$00 (lê-se - isto é para os mais novos - trinta e um mil e duzentos escudos). Estes, os mais jovens, interrogar-se-ão e é muito ou é pouco? Era, de acordo com a política de vencimentos do PC, supostamente o salário de um operário qualificado. Quanto seria hoje? Naquela data o salário mínimo era de 27.200$00 e hoje é de 485 €. Feita a devida proporção à evolução do salário mínimo aqueles 36.045$00 corresponderiam hoje a 643 €.
Na realidade recebia ainda um subsídio de 3.300$00 por cada um dos dois filhos. Feita a proporção daria então um valor atual de 760 euros mensais. 
 
O critério para a definição do salário era aceite por todos os funcionários, mais ou menos. Para muitos dos funcionários sem qualquer qualificação especial, esse salário seria o que conseguiriam obter no exterior ao pequeno universo (passe a contradição) do PCP. E tinham, como todos, a segurança no emprego que, diga-se, tinha um valor não despiciendo.  
Tanto ganhava a camarada da limpeza como Cunhal, o secretário-geral do partido. Era um critério igualitarista, basista, em divergência com os critérios "leninistas" que apontavam para uma diferenciação, ainda que moderada, de acordo com as responsabilidades e qualificações por estas exigidas. O igualitarismo justificava-se na clandestinidade e mesmo no período revolucionário, mas depois tornou-se inadequado e até fonte de alguma suspeição no exterior ao extrapolar-se para o tipo de sociedade que o PCP desejaria instaurar. A maioria dos funcionários, na altura, dada a fraca formação política tomava o igualitarismo por conceito revolucionário por excelência e defendia-o.
 
Creio que mais tarde ( ou já haveria então?) passou a haver diferenciação salarial, mas num leque muito estreito, levando em conta a responsabilidade de tarefas e antiguidade.
Também a favor do PCP prevalecia e creio que prevalece o critério de que deputado ou autarca ganha o que ganhava na profissão de origem, antes de ser eleito e se for funcionário do PCP ganha o salário de funcionário, acrescido de um pequeno subsídio para despesas de representação e não ter no trajar o mau aspeto dos pedintes da Senhora Isabel Jonet.
Seria interessante conhecer a situação atual no PC e nos outros partidos.
Na corrupta sociedade capitalista que vivemos encontramos nas maiores empresas nacionais salários que vão dos 485 euros aos 100.000 euros mensais se incluirmos os prémios. Pornográfico! como diria Bagão Félix.
A contensão salarial no PCP era indicativa da atitude "revolucionária" dos seus principais quadros mas não podia ser confundida com um padrão para a sociedade que almejavam. Aliás ficou célebre e teve um forte impacte negativo uma declaração de Álvaro Cunhal ao declarar o seu salário (à volta do salário mínimo) no fim dos anos 70, creio, e acrescentar que não precisava de mais, num momento em que a CGTP e o PCP exigiam e lutavam por salários bastante mais altos para os trabalhadores. 
 
Quando no início de 1989,  me demiti do  meu emprego, de funcionário do PCP, não tinha nenhuma perpetiva de emprego e aos 50 anos com um currículo todo no PCP a expetativa era negra. A decisão de me demitir vinha na sequência da rotura com a orientação política do partido, contestada por mim e mais alguns outros militantes, durante um ano e meio, no comité central e vencida, como sabíamos, no congresso de Dezembro de 1988.
Felizmente alguns meses depois consegui emprego, numa empresa cooperativa, a PROMOCOOP, como diretor de projetos e a seguir como secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Serviços - FECOOPSERV. Passei a ganhar um pouco mais! Quatro vezes mais. Mas nunca me queixei nem me queixo do baixo salário no PC. Era um opção assumida. Vou ver se encontro o registo do meu último salário como funcionário do PCP na clandestinidade. Se o conseguir informo-vos. Creio que com os subsídios de filhos e de renda de casa (o valor desta estava condicionado, por razões conspirativas, à zona que era distribuída a cada funcionário) andava pelos 900$00. Mas não garanto.

O Empire State Building


 À procura de outro papel encontrei este que aqui ao lado vos mostro.  É um bilhete de 10 dólares, preço que podereis confirmar aguçando a vista, para ir lá acima, ao Empire State Building, observar a urbe. Desde há um ano que o Empire State Building, com a tragédia das Twin Towers, voltara a ser o edifício mais alto da grande metrópole.

Cá em baixo não se notava muito mas quando cheguei ao terraço e alonguei a vista para ver o espectáculo de NY a meus pés foi um choque. Estava um nevoeiro serradíssimo que não deixava ver um palmo à frente do nariz. A minha decepção foi grande mas sem companhia com que desabafasse não exteriorizei o que me ia na alma. No entanto, acompanhada do namorado ou do marido, a jovem ao meu lado, não se conteve e forte da impunidade que lhe dava a barreira da língua de Camões em terra de Yankees despejou, do cimo do Empire State Building, toda a sua frustração. "Filho da p... do nevoeiro, c... f... isto tudo, perdemos tempo e dinheiro e olhava para o rapaz à espera de consolação." Eh lá! Balbuciei mas só com o olhar. Quando regressámos ao rés-do-chão passados poucos minutos observei: vejo que são portugueses. E de gema. A moça fez uma cara de pânico, mas o rapaz informou-me simpaticamente: estamos cá a trabalhar, somos emigrantes, somos do Norte. Isso eu percebera pelo léxico da moçoila. Boa sorte e até à vista devo ter dito ou algo semelhante. 

2012/12/13

Um Comunicado da PIDE/DGS a um ano do seu fim

Como bem se indica na imagem isto diz respeito a 1973 portanto nada de confundir com a realidade atual. Por ora, em 2012, o governo de Portugal dos credores que dirige Portugal e onde ganha visibilidade o ministro Abebe Selassie, assessorado pelo Sr Passos Coelho, o Dr. Relvas, e o Sr.Gaspar estão apenas, como lhes compete, a tentar salvaguardar os interesses dos banqueiros lá de fora e cá de dentro. E de caminho, claro, também os seus, nem faria sentido admitir o contrário. Receiam os portugueses ser atirados para a miséria e que Portugal regrida umas dezenas de anos? Paciência, pensam eles e, "custe o que custar", levarão a cabo a sua missão... se nós consentirmos. 
 
Ofereço-vos aqui um comunicado da PIDE que, com Marcelo Caetano, se travestiu com o nome de DGS. É a conversa da PIDE para "o Bom Povo Português" com os pides preocupados com "as gentes ordeiras e trabalhadoras" prejudicadas por estes "terroristas" que tinham a extrema preocupação de não atingir pessoas, nem mesmo a eles os torturadores e assassinos da PIDE/DGS.
(Um clique nas imagens permite uma leitura sem óculos.)

2012/12/11

Jorge Martins apresenta-nos Maria Gomes

 
Maria Gomes é de Castelo Branco, tem duas filhas e dois filhos do primeiro casamento com António Rodrigues. Após ter enviuvado casou com Fernão Martins de quem não teve filhos.
É filha de Alonso Gomes, mercador, natural de Arronches e de Helena Fernandes natural de Castelo Branco.
Maria Gomes está presa há dois anos, período que durou os interrogatórios e o julgamento.
 
Convoquem todos os vossos “amigos” pelo Facebook para a cerimónia piedosa que decorre no próximo domingo, em Lisboa, a seguir à Santa Missa, no Largo da Ribeira Velha onde será erguida a fogueira e, após o sermão do padre Manuel Rebelo, queimada viva Maria Gomes, para salvação da sua e das nossas almas.
 
Não é bem assim, concedo, e não havia ainda, julgo eu ,nem Twiter nem Facebook e o dia exato é 5 de Setembro de 1638. Esclareça-se que Maria Gomes tinha então 117 anos de idade e foi a mais velha cristã-nova a ser "salva" pelo fogo purificador da Santa Inquisição.
Cumpre acrescentar que Maria Gomes esteve presa 2 anos, antes de condenada, foi submetida à brutal tortura da polée a interrogatórios e ameças sem fim. Como mandava o regulamento do Santo Ofício, nunca chegou a saber do que a acusavam em concreto para além de “seguir a lei de Moisés” nem quem a acusou. Era obrigada, na esperança de se salvar da fogueira a denunciar o que pensava e não pensava “em seu coração” e quem poderia ter, como ela, trato com o diabo ao “ser crente na Lei de Moisés”
Com ela foram queimados vivos nesse dia mais três mulheres e três homens.
Crueldade e Cinismo
Os inquisidores têm perfeita consciência da hediondez dos crimes e das consequências negativas para a imagem da Igreja, como agora se diria, das suas fogueiras onde chegavam a queimar os restos mortais de quem não tinham conseguido condenar em vida. Por isso a Inquisição condenava à fogueira mas depois relaxava (entregava) à justiça secular a execução. E fazia-o com requinte: assim o sermão do padre Manuel Rebelo não podia esquecer as palavras canónicas para Maria Gomes:
“… a condenam e relaxam à justiça secular a quem pedem com muita insistência e eficácia se aja com ela benigna e piedosamente e não proceda à pena de morte nem efusão de sangue.” Condenam à morte e pedem para que “não se proceda à pena de morte”. E ai dos Magistrados que não cumprissem à risca e prontamente as ordens da Inquisição. “Eram excomungados e tratados como hereges”.
A inquisição foi estabelecida em 1536, no reinado de D. João III e extinta ou, se preferirem, enviada para os infernos, em 1775, pelo Marquês de Pombal. A congregação desapareceu em Portugal mas continuou sob a proteção do papado e de transformação em transformação tem hoje como sua herdeira a Congregação para a Doutrina da Fé. Sim que uma congregação sagrada, com aquele passado de salvação de tantas almas, não se deve extinguir, mesmo que já não tenha lume para fogachar. Mas creio que o Papa, há uns anos, quando estava na moda pedir desculpa também a pediu para "certos exageros" da Inquisição.
Tudo isto e muito mais, relata Jorge Martins, historiador um dos maiores, senão o maior conhecedor da história dos Judeus portugueses, no seu muito interessante livro
MARIA GOMES CRISTÃ-NOVA, 117 ANOS A MAIS IDOSA VÍTIMA DA INQUISIÇÃO
agora editado pela Vega.
Jorge Martins conta-nos com proximidade e rigor o que se passou e como passou com Maria Gomes, essa nossa concidadã e avó, tão distante e tão próxima, trazida até nós como uma mulher igual a todas as mulheres que connosco no quotidiano convivem. Mas o autor oferece-nos também o regimento da Inquisição e o Sermão daquele Auto-de-Fé.
Post Scriptum: esqueci-me de dizer algo essencial. É que isto não era condenar por condenar, incendiar por incendiar, é que quem pagava todas as despesas e todo a aquele exército de "irmãos" dominicanos do Santo Ofício e enriquecia o seu inchado e sumptuoso património eram os bens, logo arrestados, dos judeus nacionais convertidos à força, denominados cristãos-novos.
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Li o livro fiquei a saber melhor o que nós somos e de onde viemos. E assim, até consigo perceber melhor que ainda se vá consentindo no governo de Portugal estes Passos e Relvas, estes Gaspares e Borges. (Pequeno Borges. Não confundir com o verdadeiro, o argentino José Luís).
Estou esperançado, no entanto, que lá para Abril ou Maio (são meses bons) consigamos um bom auto-de-fé para estes “crentes na lei dos Mercados”. Auto-de-fé mas apenas digital, sem fogo nem polé. Que é que acham.

2012/12/09

A Igreja e a Sexualidade

Um dos cafés que frequento tem o CM e, com o devido cuidado, folheio-o. Para saber se aquelas raparigas das últimas páginas continuam muito bonitas, para ver se o artigo de opinião da página 3 é de autor que mereça respeito. E há-os, vários. Ontem li "Fé e pensamento" do padre, Fernando Calado Rodrigues.
O Início da leitura surpreendeu-me. Era um apelo à razão, à racionalidade sobre assunto de fé. Padre, o autor… aumentava a minha expectativa. Prossegui:
“Amanhã celebramos um dos últimos dogmas definidos pela Igreja: o da Imaculada Conceição. Foi há quase 160 anos que o Papa Pio XI o proclamou.

"Não foi uma imposição do papado aos fiéis. Mas foi uma vivência dos crentes que se impôs à Igreja. Séculos antes da proclamação dogmática da concepção da Virgem Maria sem mácula, já se acreditava e celebrava essa verdade.”
... “Contudo, também ela [a Igreja] reconheceu que jamais os poderá compreender perfeitamente e que nunca os conseguirá explicar e provar de uma forma puramente racional.
Maria, escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador, foi preservada do pecado, mas não foi dispensada de se interrogar nem de encontrar razões para a sua fé: é esta a perspetiva evangélica.
“Quando o Anjo lhe anuncia que vai ser a Mãe de Jesus, ela interroga-se: Como será isso possível? O Anjo responde que a Deus nada é impossível. …
"Então Maria (mesmo continuando sem compreender plenamente a missão que lhe é confiada) dá o salto da fé e disponibiliza-se para ser a Escrava do Senhor. Maria torna-se, assim, um modelo para todos os cristãos. Como ela, também todos se deverão interrogar, refletir e pôr mesmo em questão as suas crenças. Só assim poderão desenvolver uma fé mais consciente e consistente.”
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O autor começa por um apelo à racionalidade para a certa altura quanto tudo deixa de fazer qualquer sentido (a gravidez por obra e graça do Espírito Santo) devemos dar o salto de fé para aceitarmos como muito razoável, sem prejuízo da razão, a… mais absoluta irracionalidade. Por fim aconselha "Como ela [a virgem Maria], também todos se deverão interrogar, refletir e pôr mesmo em questão as suas crenças." E faz bem, mas põe em perigo a aceitação do absurdo!
Claro que respeito a religião e a religiosidade e seria a última coisa a passar-me pela cabeça discutir a racionalidade do irracional questionando o absurdo dos dogmas, pois eles são dogmas exatamente por serem absurdos. E sabemos que fins serve a alienação da mente humana.
Mas o ponto a que queria chegar não era o de pôr em dúvida a virgindade da menina tornada mãe por obra e graça do Espírito Santo e elevada a Santíssima Mãe de Deus. Isso eu dou de barato. O meu ponto é o qualificativo de “imaculada” , é a designação de mulher “sem mácula”, que vem a ser a condenação divina da mulher, por ser mulher, da mulher por ser mãe, a condenação absurda da faculdade mais essencial para a existência da humanidade. É a condenação do ato sexual, do ato que dá a vida, do ato fonte de prazer e essencial, para lá da maternidade, à saúde física e frequentemente mental dos homens e das mulheres.
Por fim e não menos relevante, do acto sexual de homem e mulher o pecado fica só para ela.

Nisto a Igreja Católica tem grandes afinidades com o Islão.

2012/11/27

Que casamento mais insólito, pá

 
O meu amigo quiz pôr o seu casamento "no ar", "nas núvens", "na internete, ou lá o que é isso mas não ponhas o nome." E assim, mesmo sem pedir autorização aos outros implicados deixo-vos aqui, anónima, a história deste casamento ou, mais rigorosamente, do seu registo civil.
 
À esquerda está a madrinha, a seguir a noiva, chegado a ela o noivo e à direita, o padrinho. Os noivos eram funcionários do PCP e os padrinhos professores de Matemática. No registo a conservadora pediu a profissão e o noivo respondeu que era funcionário de partido político. Isso não é profissão, reagiu, legal, a Drª. Estávamos em 27 de Novembro de 1975! São profissões novas, redarguiu o meu amigo que se casava e, para maior desconcerto da conservadora, acrescentou: e já agora aproveitamos para registar um filho com um ano e "legitimar" uma filha com cinco que apesar de registada o regime fascista que há pouco foi derrubado, só porque os pais não estavam casados considerava "filha ilegítima".
Os noivos, digo-vos aqui à puridade, se bem que hoje isso seja trivial, estavam amigados. Amigados, ou juntos ou amantizados como preferirem.
Registado o enlace foram festejar o casamento com um almoço muito privado, só os quatro, ao Ginjal, um restaurante simpático, em Cacilhas.
 
A singularidade do casamento não fica por aqui. É que dois dias antes tinha havido o golpe do 25 de Novembro: comandos com Jaime Neves na rua a cercar o Regimento de Lanceiros (Polícia militar) na Ajuda, estado de sítio... Melo Antunes, uma referência central da revolução portuguesa (uma sua biografia saiu agora), foi à TV travar a extrema direita que queria galgar o Grupo dos Nove (Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat,...) e garantir que o PCP não seria ilegalizado porque "era indispensável ao regime democrático". Na dúvida, os principais dirigentes do PCP abandonaram nesses dias as sedes do partido e o noivo reunia na manhã do casamento com Álvaro Cunhal, Jaime Serra e vários outros dirigentes, em local secreto, na residência do camarada JM.
- Camaradas queria informar-vos que tenho o meu casamento marcado para hoje, 27, ao meio dia. Há um mês quando marquei data não adivinhava um 25 de Novembro assim. É aqui perto, na Av. Guerra Junqueiro (Lisboa), de modo que não demoro, saio um quarto de hora antes e vou lá numa corrida. Dispensaram o meu amigo de regressar à reunião e o noivo lá foi  a pensar que se lixe a troica que se lixe a contra-revolução, ela que espere!

2012/11/06

1966: 90 presos políticos no Forte de Peniche


Para que "Não Apaguem a Memória" ofereço-vos aqui a cópia (digitalizada) de uma informação que circulou no início de 1967 entre os quadros clandestinos do PCP, talvez destinada também à Comissão de Socorro aos presos políticos. Nela se informa sobre a situação dos 90 presos políticos, no Forte de Peniche, em 1966. Nome, idade, profissão, terra de origem, pena, incluindo ou não medidas de segurança (continuação da prisão após cumprida a pena, por tempo indeterminado, ao critério da PIDE), prisões e anos de prisão sofridos em prisões anteriores, advogados de defesa.
Uma análise deste documento será muito elucidativa sobre a luta contra a ditadura. Sobre quem luta, e sobre as duríssimas penas a pessoas que apenas reclamavam, pão, trabalho, justiça, democracia, liberdade. Há muitos operários, alguns estudantes e intelectuais. São 53 operários, 18 empregados, 7 estudantes, 4 engenheiros, 1 médico, 1 professor, um capitão do Exército. Há penas monstruosas. Uma de 21 anos, outra de 16 anos, outra de 14 anos e seis meses. 81 presos com penas de muitos anos e outras de 1 e meio ou 2 anos com "medidas de segurança" que tanto podem representar 3, 6, 9 anos ou os que a PIDE entender. Pouco tempo antes fora libertado Manuel Rodrigues da Silva depois de 23 anos preso, Francisco Miguel fugiu de Caxias já com quase 22 anos de prisão, José Magro´é um dos que está nesta relação de presos de Peniche foi condenado a 10 anos mas quando sair perfez cerca de 21 anos de prisão. Que crimes? Delitos de opinião, de luta pela liberdade, sem armas nem sangue. E todos formam submetidos a torturas durante semanas e meses. Alguns até à beira da morta e da loucura a que alguns não resisitiram.
Entre os presos não encontrei nenhum... banqueiro nem latifundiário. 
Que os exemplos do passado nos inspirem nos combates políticos que hoje em democracia temos de travar quando estão em causa muitas das conquistas sociais que o 25 de Abril nos trouxe.
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Este dispositivo digital do ISSUU oferece a informação sob a forma de um livro. Um clique na imagem abre o "livro". Um clique na seta lateral da folha do livro, à esquerda ou à direita, folhea-o.  Para ampliar a imagem se a letra for pouco legível mais um clique.
Boa leitura.
 

2012/10/31

A ditadura portuguesa e a sua polícia política


Este é o título do excelente artigo da historiadora Irene Pimentel (Público de 2012-10-29) que a seguir se reproduz.
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Nota: acabei de "reciclar" o post. Tive uma trabalheira para alinhar aqui o artigo do Público. Digitalizei-o, mas a imagem não ficava legível, então dividi-o ao meio e coloquei as duas imagens. Mas também não resultou. Parei então para pensar, coisa que nem sempre ocorre a um cidadão atormentado por um governo submetido, por vocação e gosto, à tutela dos mercados financeiros. Espera aí (sou eu a pensar) mas a Irene escreve no JUGULAR será que ela colocou o artigo no blog?
Pois é, está lá e melhorado, na versão original que não teve de sofrer as limitações de espaço dos jornais. Pensei então substituir o artigo pelo link para o blog mas reconsiderei: convém pensar, sem dúvida, mas não demais! E aqui fica o artigo copiado, tim tim por tim tim, do JUGULAR com uma vénia para a Senhora Historiadora.
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"Versão mais alargada do meu texto relativo à Ditadura portuguesa e à sua polícia política, publicado no jornal «Público», de 29 de Outubro de 2012. Por razões de espaço, a versão do jornal teve de ser abreviada.

Escrever História ou «fazer História» é uma prática baseada num conjunto de regras que, a partir da colheita e análise de fontes, propõe encadeamentos e interpretações para transmitir um conhecimento que se pretende o mais próximo possível da verdade – sempre provisória e relativa -, ou, melhor, da veracidade de uma determinada realidade passada. O historiador, porém, produz um local e um tempo diferentes do local e do tempo onde ele próprio está, e depende dos testemunhos, sabendo que, ao tentar conhecer, analisar e organizar o passado através de um discurso narrativo, o faz em função do presente e perspectivado por este. O historiador pode ser de direita ou de esquerda, mas deve porém, tender para o máximo de imparcialidade. A escrita da História não é neutra e é sempre modelada por escolhas e figuras de retórica e interpretativas, certamente moldadas pela ideologia e a mundivisão do investigador, mas não deve estar ao seu serviço.

O «fascismo» não existiu em Portugal?
Nos anos 80 do século XX, Eduardo Lourenço colocou a pergunta retórica: «o fascismo nunca existiu?» Hoje, segundo penso, não interessa tanto, no estado actual da investigação histórica em Portugal, afirmar que o regime político existente em Portugal entre 1932/33 e 1974 era «fascista», «totalizante» ou «autoritário». Afirmar que se tratava de uma ditadura com características conservadoras, reaccionárias e uma matriz católica não provocará grandes divergências. Ou seja, não interessa tanto saber se o «fascismo» existiu em Portugal, como interessa afirmar que vigorou uma Ditadura em Portugal durante muitos anos, tendo até sido a que maior longevidade teve na Europa do século XX.
O que interessa é caracterizar com o máximo de profissionalismo, capacidade interpretativa e veracidade como funcionava esse regime ditatorial, através das suas diversas instituições, dos diferentes factores e aspectos sociais, económicos e políticos devidamente contextualizados. Interessa também verificar de que forma isso tudo foi vivido no dia-a-dia dos portugueses, sabendo-se que estes não eram uma entidade colectiva mas uma colectividade de indivíduos com interesses e vivências diferentes. A cronologia e a contextualização obrigam a matizar essas mesmas experiências, que foram vividas de forma diferente nos anos 30 do que o foram nos anos setenta do século XX.

Outro aspecto muito importante é a análise comparativa, mas esta, quanto a mim, só deveria ser feita em períodos coevos e entre regimes afins, em contextos com um mínimo de denominadores comuns. Comparar permite não só detectar as semelhanças, como distinguir as diferenças e singularidades. Por exemplo, tão errado, quanto a mim, é concluir que a ditadura salazarista nos anos trinta e quarenta se assemelhava, na sua essência, ao nacional-socialismo alemão, sem ter em conta a diferença de monta que é a ausência de anti-semitismo na ideologia e no eStado salazarista, como o faz Manuel Loff (O Nosso Século é Fascista!, 2008), como afirmar que a ditadura portuguesa seria «moderada», o que já em si e uma contradição em termos, ou permitiria um pluralismo limitado ou «contido», exemplificando com a existência, entre 1932 e 1934, de um partido fascista – o movimento nacional-sindicalista, como faz Rui Ramos (História de Portugal, 2009, pp. 634 e 653, 698).

Mortes e prisões por razões políticas
Num estudo sobre a polícia política da ditadura de Salazar e Caetano, entre 1945 e 1974, procurei saber quantas detenções e mortes houve por razões políticas em Portugal, comparando esses números com outros em regimes ditatoriais, no mesmo contexto histórico. Eu própria fui surpreendida, ao detectar que a PIDE/DGS – na chamada metrópole – prendeu e matou menos do que eu pensava. Já a sua antecessora, a PVDE, entre 1933 e 1945, prendeu e matou mais que a PIDE. A tentação, sobretudo se é voluntária e ideologicamente motivada, pode ser retirar daí a conclusão de uma «moderação» da ditadura portuguesa. Mas há muitas outras explicações e factores explicativos. Por exemplo, um deles é que a sociedade «civil» em Portugal era muito menos forte e plural, na primeira metade do século XX, que noutros países europeus.
Em complemento a esta explicação, pode-se referir o facto de, entre 1926 e 1932, a ditadura militar, depois chamada Ditadura Nacional, ter vivido em clima de «guerra civil», aproveitando para eliminar progressivamente os diversos opositores políticos. À medida que fracassavam os movimentos civis e militares «reviralhistas” de 1927, 1928, 1930 e 1931, que se saldaram aliás por centenas de mortos, sucediam-se as vagas de prisões, deportações administrativas e saneamentos políticos. E não eram necessários os julgamentos para se enviar alguém durante dez anos para o Tarrafal. Após os republicanos e os «reviralhistas», foram derrotados os anarco-sindicalistas, até Salazar erigir como principal adversário político o comunismo, «a grande heresia da nossa idade» e, dessa forma, o PCP manteve-se como o principal adversário político até à irrupção das organizações de esquerda radical e de luta armada, no «marcelismo».
Quanto às mortes físicas, já se viu que houve muitas entre 1926 e 1932 e, entre esse ano e 1945, mas menos de então até 1974. Lembre-se sempre que me refiro aqui à na chamada metrópole. Depois, surgiu o contexto do pós-II Guerra, em que o regime português se enquadrou na NATO e na ONU, em clima de ditadura interna e de guerra-fria externa, a polícia política continuou a torturar, mas sem que isso se soubesse, ou que houvesse mortes. Francisco Martins Rodrigues foi submetido, em 1966, a uma simulação de fuzilamento, mas não acreditou que o fossem matar, pois sabia que não acontecia. Isso aconteceu, depois de dias e noites de tortura do sono e de constantes espancamentos. Sim, porque, tal como existiram saneamentos políticos «gerais» na ditadura portuguesa (Ramos, p. 634) – com picos em 1935 e 1947, mas sem deixarem de se verificar ao longo de toda a Ditadura –, e ninguém ingressava na Administração Pública, sem uma informação “boa” da PIDE, esta recorreu à tortura.

A tortura
E por que não utilizar a expressão, uma vez que as torturas foram os principais métodos de “investigação” da polícia política? A escolha de certas expressões, em detrimento de outras, dá um tom a uma realidade, iluminando-a ou deturpando-a. Dizer que a polícia utilizava «agressões verbais e físicas (especialmente a privação de dormir)» (Ramos, op. cit., p. 695) p. Ti., é uma verdade, mas não referir a duração da tortura do sono, nem as consequências para a vida, pode distorcer a realidade. Em 1965, Alvaro Veiga de Oliveira, foi torturado pela PIDE durante 37 dias, dos quais 17 dias na “estátua” e “sono”, além de espancado «com um cassetête eléctrico». Existem inúmeros outros testemunhos sobre o sofrimento causado pelas torturas, a pontos de presos desejarem a morte e lamentarem que esta não surgisse.
A detenção política, em Portugal, combinou três lógicas: a lógica de afirmação da autoridade, de carácter preventivo; a lógica da correcção, de carácter correctivo e a lógica, de neutralização. A primeira lógica, com carácter dissuasivo e intimidatório, era utilizada para a população em geral, sobre a qual pairava a ameaça do que lhe poderia acontecer, caso se metesse em «política». A segunda lógica era reservada aos que tinham sido “momentaneamente transviados” e, através do “susto” da prisão preventiva e correccional, nunca mais terem a ousadia de actuar contra o regime. Finalmente, a terceira lógica, de neutralização, tinha como objectivo retirar do espaço público os dirigentes e funcionários dos partidos considerados subversivos, nomeadamente os comunistas, através da prisão e das medidas de segurança.
A durabilidade do regime deveu-se a diversos factores, dois dos quais decisivos: por um lado, o sucesso da desmobilização/intimidação cívica/repressão, através de vários instrumentos, entre os quais se contou PIDE/DGS e, por outro lado, o facto de o regime ditatorial, nos momentos de crise ter conseguido manter a coesão das Forças Armadas em seu redor. Razão tinha Silva Pais (cit. por Ramos, p. 695), ao afirmar, em 1966, que, depois de Salazar, «apenas as Forças Armadas» aguentariam «isto». O estertor do regime foi acompanhado por uma maior repressão e um aumento da violência policial, que coincidiram com a multiplicação dos problemas enfrentados pelo regime, entre os quais se contou a diversificação da oposição. No “marcelismo”, Portugal parecia então uma “panela de pressão”, pronta a explodir, por si própria, ou com ajuda. Esta surgiu, mas de outro meio - do seio de uma parte das Forças Armadas, com as quais a PIDE/DGS colaborava nos teatros de guerra.

2012/07/22

Fiquei amigo do bispo mas, para meu prejuizo, ele... não sabe

D. Januário Torgal, o capelão-mor das forças armadas é conhecido pela sua frontalidade. Fazendo jus dessa sua virtude há dias, nos media, criticou asperamente o governo pela sua insensibilidade social, por descarregar sobre os mais necessitados os custos da crise e poupar os ricos que dela beneficiaram e beneficiam. Não receou acusar de “altamente corrupto" o governo de Passos Coelho e, sem subterfúgios, colocou-se do lado dos mais fracos.
Os catolicíssimos membros do Governo e seus papagaios de serviço logo se manifestaram escandalizados com o bispo, perderam a compostura, produziram acusações e aleivosias contra o prelado e revelaram assim que a sua igreja é a antiga, a do Cardeal Cerejeira. Passos e Ciª, desnorteados com as vaias que vão colecionando quando visitam o povo, revelaram-se afinal uns assanhados filisteus.
Sou um contumaz incréu, não frequento a igreja e não tenho convivência com bispos. Creio, aliás, que apenas uma vez surgiu a oportunidade de conversar com um bispo e esse foi, não por acaso, D. Januário Torgal. Não por estarmos ambos do lado dos mais fracos, não por ambos estarmos visceralmente contra a corrupção ou contra as prepotências de poderosos. D. Januário Torgal cruzou-se comigo e, dispensando apresentações, convidou-me para um “cafezinho”.

Foi assim:

As Forças Armadas organizaram no Instituto de Altos Estudos Militares, em Lisboa, à Junqueira, em 1998, salvo erro, um pomposo debate sobre o serviço militar obrigatório, cuja extinção estava em debate na Assembleia da República, em ligação, por videoconferência, com os comandos de todas as outras regiões militares. Presente o ministro da defesa de então, António Vitorino, muitos deputados em especial os da comissão parlamentar de Defesa, qualidade que ali me levou, e umas largas dezenas de generais, coronéis e outras altas patentes militares. Pedi a palavra a seguir a uma intervenção do então deputado do PSD Durão Barroso e, para além de dizer o que me parecera adequado e necessário, acerca do tema em discussão, aproveitei o momento para dizer com bonomia e educação que o que Durão Barroso acabara de dizer era um disparate e revelava  que não sabia do que falava. Durão para atrair a simpatia dos chefes militares defendeu a continuação do serviço militar obrigatório mas com um argumento  falso o  de que em toda a história de Portugal, da fundação à atualidade, o serviço militar tinha tido a natureza que ainda então conservava, de serviço militar obrigatório.
Falou a seguir Ângelo Correia, um dos grandes especialistas em assuntos militares, e com quem já mais de uma vez me encontrara em debates sobre assuntos de defesa nacional. Começou por elogiar a minha intervenção e atirou à ilustre assistência uma “boutade”: “ queria afirmar que o deputado … (e disse o meu nome) é, entre os civis, um dos maiores especialistas em assuntos militares". Não sei o que levou Ângelo Correia a fazer ali tal afirmação. É do seu estilo fazer destas coisas. Talvez que o motivo tenha sido o justo reconhecimento, que eu confirmo e aplaudo, dos meus conhecimentos mas inclino-me para que pretendeu, por algum despique partidário, afrontar Durão Barroso, sublinhando a ignorância de que eu o acusara.

Pouco depois fez-se um intervalo no debate. Foi aí que ao caminhar para o coffe break  me cruzei com D. Januário Torgal que, sem que tivéssemos tido anterior conhecimento, se me dirigiu cordialmente e me desafiou: “Venha daí beber um cafezinho”. Uma coisa assim, simples e cativante, da parte de um representante de Deus para um relapso ateu, fez-me ficar amigo do bispo e sem que ele, para meu prejuízo, até hoje, o saiba. Pensei para comigo, terá acreditado naquelas balelas do Ângelo Correia?

2012/06/10

Jorge Sampaio e o reitor da Universidade de Lisboa no lançamento de "A Foto"

Estão todos convidados.

O lançamento do livro dos tais oito autores é amanhã, dia 11/Junho, às 18:30, no salão nobre da reitoria da Universidade de Lisboa. Lá vos esperamos. A entrada é livre.
Se querem saber quase tudo sobre o livro (e a conspiração que está por trás) é ir aqui mas, por favor, não espalhem.

2012/05/15

Homenagem aos 56 portuguese mortos na Galiza pelo franquismo



Notícia obtida junto do Núcleo do Porto do Movimento Não Apaguem a Memória (NAM):

«No passado sábado 12 de Maio, em Monção, teve lugar uma cerimónia oficial de homenagem aos antifascistas portugueses que, na Galiza, no contexto da Guerra Civil de 1936-39, foram assassinados pelos franquistas. O Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória!” esteve lá, representado por dois membros do núcleo do Porto, Maria Rodrigues e Manuel Loff.

Com a presença de cerca de 50 participantes, a homenagem aos portugueses que morrerem na Galiza às mãos dos franquistas, realizada em Monção, na margem do rio Minho, junto à ponte internacional, foi uma comemoração plena de dignidade, tendo sido inaugurado oficialmente um monumento granítico em que se inscreve uma placa metálica que fixa o nome de 53 dos portugueses, homens e mulheres, vítimas da repressão franquista durante o período da Guerra Civil.

A cerimónia iniciou-se com a proclamação de cada um dos nomes desses cidadãos portugueses pelas vozes de uma activista do NAM, de um neto de uma das vítimas e de um membro da associação galega “Os Amigos da República”, intercaladas pelo som dos tambores do Grupo de Gaiteiros Galegos.

Depois de desfraldada a lápide, foram proferidos os discursos oficiais do Presidente do Município de Monção, que patrocinou o evento, do reitor da Universidade do Minho e do historiador Fernando Rosas, tendo sido lida a mensagem de Mário Soares, ausente por motivo de doença.

Depois, na Casa-Museu da Universidade do Minho, dirigida por Viriato Capela, que fez a apresentação do projecto “Nomes e Voces”, seguiram-se as comunicações dos investigadores em História Contemporânea Lourenzo Fernandez e Dionísio Pereira, da Universidade de Santiago de Compostela, e da antropóloga Paula Godinho, do ISCTE.

O evento constituiu um momento importante de um ciclo que, particularmente na Galiza, desencadeia linhas de investigação histórica que desocultam os processos de perseguição do regime franquista contra os republicanos.

Dado que esta homenagem se insere num movimento cultural que visa o aprofundamento do conhecimento e a preservação da memória das lutas dos povos peninsulares contra os fascismos, o espectáculo de música popular e dança folclórica que encerrou as comemorações, dinamizado pelo “Grupo da Sé”, reflectiu as variações no gosto e as permutas culturais entre os povos da região correspondente à Galaecia romana.»
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Ver também aqui, ou aqui:

2012/05/13

Homenagem a 56 portugueses mortos pelo franquismo na Galiza

"Monção inaugurou ontem um monumento com os nomes e as cidades de onde eram provenientes de todas as vítimas portuguesas do Franquismo, que foi colocada junto à ponte transfronteiriça."

"Ao início da tarde, os nomes foram lidos durante longos minutos por membros da Associação de Amigos da República de Ourense, União de Resistência antifascistas de Portugal e da associação Não Apaguem a Memória. "

"As conquistas democráticas para as quais contribuíram aqueles que lutaram contra o fascismo em Espanha estão ameaçadas pela actual conjuntura europeia, que afecta
os dois países ibéricos. A ideia foi ontem defendida durante uma homenagem aos 56 portugueses que foram mortos pelo franquismo na região da Galiza, que decorreu junto
à fronteira de Monção."
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As imagens reproduzem a reportagem publicada hoje no jornal Público . (Um clique amplia-as)

2012/01/21

50º Aniversário da revolta de Beja: intervenções dos historiadores Irene Pimentel e António Louça



Notícia saída na revista VISÃO de 2012 01 19

Intervenção da historiadora e membro da direcção do NAM Irene Pimentel na sessão do 50º aniversário da revolta de Beja (ver posts abaixo):
«Em primeiro lugar, gostaria de manifestar o meu contentamento por poder estar aqui nesta sessão, onde, creio, é principal objectivo retirar do esquecimento um importante acontecimento na luta contra a ditadura. Deve-se dizer que a memória da revolta armada de Beja, na passagem do ano de 1961 para 1962, foi apagada evidentemente, por razões óbvias, pelo próprio regime salazarista, mas também o foi por uma parte da oposição ao regime, que nela não participou. E, no entanto, o punhado de homens e algumas mulheres que generosamente se envolveram no movimento de Beja fê-lo de forma algo nova e diferente do que até aí tinha acontecido, durante o regime ditatorial.
Ao abordar alguns dos episódios de que aconteceu em Beja, procurarei reflectir sobre essa revolta...
Intervenção do historiador António Louçã:
Agradeço às pessoas presentes o interesse pelo tema, que sa fez deslocarem-se aqui nesta tarde de sábado. Aos participantes da Revolta de Beja não agradeço que se tenham levantado em armas contra a ditadura salazarista, porque não procuravam gratidão - procuravam apenas fazer o que era preciso e esse “apenas” era muito. Para alguns foi tudo: o sacrifício de si próprios e de familiares seus, dos confortos, das carreiras, da liberdade e até da vida. E continuam hoje, os vinte e três subscritores do comunicado evocativo da Revolta, a dar testemunho contra esta voragem neo-liberal que ameaça as gerações vindouras.

Valha esta referência como declaração de intenções. O historiador, o jornalista, o investigador ou o estudioso, segundo a amável apresentação do Raimundo Narciso, ao debruçar-se sobre uma iniciativa da envergadura que teve a Revolta de Beja, não pode deixar de vibrar com ela e de tomar partido. Eu, partidário dos insurrectos, me confesso e declaro desde já este parti pris.

Agradeço à associação “Não Apaguem a Memória” o convite para participar nesta comemoração. No nome da associação vai toda uma intenção programática. [continua aqui].

2012/01/16

Homenagem aos heróis da revolta armada de Beja

Da direita para a esquerda: Luis Carlos, Victor Quintão Caldeira, Venceslau de Almeida, Alfredo Guaparrão, Delmar Silva, Varela Gomes, Raul Zagalo Coelho, Manuel Peralta Bação, Eugénio de Oliveira, António Pombo Miguel, José Hipólito Santos, António dos Santos Pereira e José Duarte Galo.


O jornal A BOLA online traz uma boa reportagem, de Irina Iglésias, sobre a sessão de comemoração do 50º aniversário da revolta armada de Beja, realizada pelo Movimento Cívico Não Apaguem a Memória - NAM em cooperação com a Comissão de Participantes, em 2012-01-14 na Biblioteca Museu da República e da Resistência, em Lisboa. [Link para A Bola online]


Das fotos, a de cima e as duas seguintes (de Álvaro Isidoro/ASF) foram tiradas do site da Bola.online



 
 


50º Aniversário da revolta armada de Beja

 
 
A sessão comemorativa do 50º aniversário da revolta armada de Beja e de homenagem aos seus participantes, promovida pelo Movimento Cívico Não Apaguem a Memória - NAM em cooperação com a Comissão de Participantes, realizada em Lisboa, na Biblioteca Museu da República e da Resistência em 14 de Janeiro de 2012, teve uma grande afluência de público que encheu o anfiteatro os corredores e salas anexas.

Entre os presentes estavam muitos dos participantes na revolta de Beja, nomeadamente o coronel João Varela Gomes e Edmundo Pedro, assim como conhecidos “capitães de Abril”, alguns dos quais, em representação da Associação 25 de Abril, como o general Pezarat Correia, o comandante Contreiras, os coronéis Aniceto Afonso, Mário Tomé, Rosado da Luz,  além de conhecidas figuras da intelectualidade e da vida pública como o ex-ministro das Obras Públicas Eng. Mário Lino, professores universitários como Paulo Almeida ou Luís Salgado Matos, historiadores como Jorge Martins ou Luisa Tiago de Oliveira, o Dr. Ernâni Pinto Basto ou a Drª. Luisa Corte Real.

As intervenções dos historiadores Irene Pimentel e António Louçã e do coronel Carlos Matos Gomes despertaram muito interesse. O debate, na segunda parte da sessão, trouxe o testemunho de vários participantes e de pessoas que viveram os acontecimentos como Ramiro Morgado.

Especialmente tocante foi o testemunho de Maria Eugénia (na fotografia), mulher do então capitão e hoje coronel Varela Gomes, que a ditadura levou a julgamento e, numa atitude de revoltante vingança, manteve presa durante um ano e meio.
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Participantes na acção revolucionária de Beja presentes na sessão promovida pelo NAM

Que participaram directamente nalguma(s) das três tentativas (a 2 e 9 de Dezembro/61 e 1 de Janeiro/62) do assalto ao quartel de Beja:

Airolde Casal Simões, Alfredo Guaparrão, António dos Santos Pereira, António da Graça Miranda, António Pombo Miguel, Delmar Silva, Edmundo Pedro, Eugénio Filipe de Oliveira, Francisco Leonel Rodrigues Lobo, Fernando Roxo da Gama, família de Gualter Nunes Basílio, João Paulo Varela Gomes, José Duarte Galo, Luís Carlos, Manuel da Costa, Manuel Pedroso Marques, Manuel Peralta Bação, Viúva de Manuel Serra, Maximino Serra, Raul Zagalo Gomes Coelho, Venceslau Lopes de Almeida, Victor Quintão Caldeira

Envolvidos na acção revolucionária de Beja:

António Brotas, Maria Eugénia Varela Gomes, Carlos Veiga Pereira, José Hipólito dos Santos e a família de Carlos Prazeres Ferreira.