Desde ontem, 10 de Junho, Dia de Portugal, que o escritor Mário de Carvalho é Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada. É o reconhecimento público, conferido pelo Presidente da República, da obra de um dos mais credenciados escritores contemporâneos de língua portuguesa.
A Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é uma ordem honorífica portuguesa que herdou o nome da
Ordem de Santiago extinta em 1834, e que é concedida por mérito literário,
científico e artístico. O seu nome completo é Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de
Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico. Tanta erudição está agora ao
nosso alcance na Wikipedia. De Santiago só sabia que começou por ser o
padroeiro das nossas hostes reais e que em campo aberto os cavaleiros gritavam
Por Santiago e assim lá iam ganhando as batalhas em que tinham superioridade de
forças. Mas depois o fortalecimento da independência do reino era feito a
custas de Castela e as batalhas se não eram com os mouros de mafamede eram com
os nossos vizinhos castelhanos, irmãos em Cristo. Ora eles também gritavam por
Santiago e assim obrigavam o santo a opções difíceis entre cristãos. Nesta
encruzilhada mudámos de padroeiro para S. Jorge, que já o era dos ingleses e nos
ajudavam contra Castela.
Mas o assunto não é este. O
assunto é a condecoração do meu amigo Mário de Carvalho um escritor que sempre leio com o maior prazer.
No meu tempo de estudante terçávamos armas em torno de
muito retóricas polémicas sobre a falsa dicotomia entre a forma e o conteúdo. E
a rapaziada mais alinhada com o comunismo, o antifascismo prevalecente, estava
religiosamente pela absolutização do conteúdo e tinha um ufano desprezo pela
forma. Isto era só para dizer que sem desprezar a importância do conteúdo e
antes de sobre ele concluir em cada romance, conto ou novela do Mário de
Carvalho, vou saboreando, frase a frase, palavra a palavra a sua belíssima escrita.
Lamentavelmente não li todos os seus livros mas a
culpa é dele que escreve livros demais. Tenho mais de uma dezena de livros
seus. Julguei que tinha todos ou quase todos mas afinal não. Estou mesmo muito
longe, segundo me informam aqui já
vai lá para a trintena. Por um lado não me dá tempo para os ler a todos e
depois criar-me-ia um problema do género “dívida soberana”.
Um dos livros que
mais me impressionou foi “Um Deus
Passeando pela Brisa da Tarde “.É também, segundo julgo, o seu livro
mais premiado, nomeadamente com alguns dos mais prestigiados prémios, como o Grande
Prémio de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube ou o prémio
internacional Pégaso. É também, creio, o mais traduzido, 9 línguas.
Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde «é simultaneamente
um estudo envolvente sobre a conduta moral de um homem e uma reflexão
provocadora sobre a dificuldade de se levar uma vida virtuosa numa era em
constante mudança». Não sou eu que o diz é o The New York Times Book Review.
Aqui há umas semanas atrás convidei o Mário de Carvalho (e ele aceitou)
para funções de grande prestígio, Presidente da Assembleia Geral do Movimento
Cívico Não Apaguem a Memória - NAM! na lista em que
concorremos e ganhámos. Por sorte não havia mais listas a concorrer.
Portanto ficam todos a saber que a partir de agora o NAM conta com um
Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada nos seus corpos
sociais e Mário de Carvalho conta no seu curriculum além de prémios e mais
prémios, condecoração e dezenas de livros e sei lá que mais títulos, a prestigiosa função de Presidente da
AG do NAM.
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Informação confidencial de última hora cuja fonte não
posso revelar diz que o fanico do Senhor Presidente da República, nas cerimónias
do 10 de Julho, que tanta consternção lavrou por todo o país, não tem nada a ver com a grande vitória do PS nas eleições para
o PE. Está antes relacionado com o caso
da condecoração de Mário de Carvalho. Segredaram-lhe: “Então o Sr. Presidente foi dar uma
condecoraçãozona destas a um escritor de esquerda, que até está contra o nosso
governo?” O Presidente que nunca lera uma linha dos romances, contos ou novelas
do Mário de Carvalho e sabia lá agora por que bandas ideológicas andaria a escrita do
escritor… caiu em si. Ou seja, teve o chilique que se viu.