2014/06/11

Mário de Carvalho condecorado pelo PR


Desde ontem, 10 de Junho, Dia de Portugal, que o escritor Mário de Carvalho é Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada. É o reconhecimento público, conferido pelo Presidente da República, da obra de um dos mais credenciados escritores contemporâneos de língua portuguesa.

A Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é uma ordem honorífica portuguesa que herdou o nome da Ordem de Santiago extinta em 1834, e que é concedida por mérito literário, científico e artístico. O seu nome completo é Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico. Tanta erudição está agora ao nosso alcance na Wikipedia. De Santiago só sabia que começou por ser o padroeiro das nossas hostes reais e que em campo aberto os cavaleiros gritavam Por Santiago e assim lá iam ganhando as batalhas em que tinham superioridade de forças. Mas depois o fortalecimento da independência do reino era feito a custas de Castela e as batalhas se não eram com os mouros de mafamede eram com os nossos vizinhos castelhanos, irmãos em Cristo. Ora eles também gritavam por Santiago e assim obrigavam o santo a opções difíceis entre cristãos. Nesta encruzilhada mudámos de padroeiro para S. Jorge, que já o era dos ingleses e nos ajudavam contra Castela.

Mas o assunto não é este. O assunto é a condecoração do meu amigo Mário de Carvalho um escritor que sempre leio com o maior prazer.  

No meu tempo de estudante terçávamos armas em torno de muito retóricas polémicas sobre a falsa dicotomia entre a forma e o conteúdo. E a rapaziada mais alinhada com o comunismo, o antifascismo prevalecente, estava religiosamente pela absolutização do conteúdo e tinha um ufano desprezo pela forma. Isto era só para dizer que sem desprezar a importância do conteúdo e antes de sobre ele concluir em cada romance, conto ou novela do Mário de Carvalho, vou saboreando, frase a frase, palavra a palavra a sua belíssima escrita. 

Lamentavelmente não li todos os seus livros mas a culpa é dele que escreve livros demais. Tenho mais de uma dezena de livros seus. Julguei que tinha todos ou quase todos mas afinal não. Estou mesmo muito longe, segundo me informam aqui já vai lá para a trintena. Por um lado não me dá tempo para os ler a todos e depois criar-me-ia um problema do género “dívida soberana”. 

Um dos livros que mais me impressionou foi Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde.É também, segundo julgo, o seu livro mais premiado, nomeadamente com alguns dos mais prestigiados prémios, como o Grande Prémio de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube ou o prémio internacional Pégaso. É também, creio, o mais traduzido, 9 línguas.

Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde «é simultaneamente um estudo envolvente sobre a conduta moral de um homem e uma reflexão provocadora sobre a dificuldade de se levar uma vida virtuosa numa era em constante mudança». Não sou eu que o diz é o The New York Times Book Review.

Aqui há umas semanas atrás convidei o Mário de Carvalho (e ele aceitou) para funções de grande prestígio, Presidente da Assembleia Geral do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória - NAM! na lista em que concorremos e ganhámos. Por sorte não havia mais listas a concorrer.

Portanto ficam todos a saber que a partir de agora o NAM conta com um Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada nos seus corpos sociais e Mário de Carvalho conta no seu curriculum além de prémios e mais prémios, condecoração e dezenas de livros e sei lá que mais títulos, a prestigiosa função de Presidente da AG do NAM.

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Informação confidencial de última hora cuja fonte não posso revelar diz que o fanico do Senhor Presidente da República, nas cerimónias do 10 de Julho, que tanta consternção lavrou por todo o país, não tem nada a ver com a grande vitória do PS nas eleições para o PE. Está antes  relacionado com o caso da condecoração de Mário de Carvalho. Segredaram-lhe: “Então o Sr. Presidente foi dar uma condecoraçãozona destas a um escritor de esquerda, que até está contra o nosso governo?” O Presidente que nunca lera uma linha dos romances, contos ou novelas do Mário de Carvalho e sabia lá agora por que bandas ideológicas andaria a escrita do escritor… caiu em si. Ou seja, teve o chilique que se viu.