Eis o texto de VPV:
"A viagem do Papa à Polónia acabou mal. Em Auschwitz, declarou que um “bando de criminosos” tinha subido ao poder à custa do povo alemão e “usara e abusara” dele como “instrumento” da “sua sede de poder e destruição”. Esta horrível tese absolve o povo alemão e, principalmente, a Igreja Católica Apostólica Romana dos crimes do nazismo. Comecemos pelo povo alemão. Hitler chegou ao poder em parte pelo voto e em parte com a ajuda da classe dirigente imperial, que execrava a República de Weimar. Por indicação do núncio Pacelli, a Igreja manifestou o seu júbilo e apoio, e aceitou dissolver o partido e os sindicatos católicos, como em geral qualquer associação de ca- rácter “político”. Logo depois, em Março de 1933, resolveu assinar uma concordata com Hitler (também com o patrocínio de Pacelli). Em 1934, Hitler mandou pessoalmente liquidar algumas centenas de pessoas na chamada “noite das facas longas”. Ninguém protestou. A Igreja, em especial, não protestou apesar de uma das vítimas ser o secretário-geral da Acção Católica e outra o director da Organização Desportiva Católica. Não se ouviu também um murmúrio contra a legislação anti- semita, nem na Alemanha, nem na Igreja. Só em 1937, a encíclica Mit Brennender Sorge de Pio XI condenou as “doutrinas raciais” de Hitler e se queixou do incumprimento da Concordata. Mas, no ano seguinte, a chamada “noite de cristal”, em que se queimaram sinagogas e se destruíram sistematicamente as lojas de judeus para não falar nos milhares de judeus que se mataram no meio da rua) tornou a não comover a Alemanha e a Igreja.
"Em 1939, Pio XII (Pacelli) nem sequer comentou a anexação da Checoslováquia ou a invasão da Polónia, dois países católicos. Por esta altura, já milhões de alemães conduziam uma guerra de extermínio no leste: do marechal ao soldado raso toda a gente sabia, e muito bem, o que andava afazer. Como o sabiam os milhões (tropas da SS e regulares, ferroviários, técnicos, burocratas) que juntaram os judeus da Europa inteira até ao último minuto da guerra e os levaram para os campos da morte. Um “grupo de criminosos” que “usou e abusou” de “um instrumento”? Que grande “grupo” e que extraordinário “instrumento”! Verdade que o Papa Ratzinger precisa de “acreditar” no absurdo para explicar a total abstenção da Igreja durante a Shoah. Sem essa hipocrisia, como poderia ele perguntar “onde estava Deus” e por que “ficou silencioso”, quando a pergunta necessária e certa é, evidentemente, e ele não ignora: “onde estava a Igreja” e por que “ficou silenciosa”?"