Agora que entrámos pelo 2018 adentro lembrei-me de olhar para trás. Admitindo que a coisa estava como o vídeo nos diz não há dúvida que estava um pouco diferente. É pena não nos levar um pouco mais longe, uns 10 ou 15 mil anos lá para trás. Ou apenas ao tempo em que os egípcios ergueram as pirâmides de Gizé. A de Keops, a de Kefren ou a de Mikerinos cujos nomes o liceu nos obrigou a decorar. Cheguei a vê-las do alto do avião que me trazia da Etiópia, quando em Setembro de 1977, estive em Adis-a beba, a participar, como convidado, nas comemorações do 3º aniversário da revolução que derrubara o imperador Haile Selassie. Atrasaram-se 5 meses em relação a nós.
2018/01/02
2017/12/24
A Maravilhosa ANNA NETREBKO
conhecida e admirada pela sua voz sumptuosa e pela sua beleza.
Começou a trabalhar lavando chãos no Teatro Mariinsky de São Petersburgo ("casa" da Ópera de Kirov). Lá, ela chamou a atenção do maestro Valery Gergiev, que se tornou seu orientador vocal. Guiada por Gergiev, ela fez a sua estréia no Mariinsky como Susanna em Le Nozze di Figaro (“As Bodas de Fígaro”). Depois disso, ela desempenhou diversos papéis junto com a companhia como Pamina em Die Zauberflöte (“A Flauta Mágica”) e Rosina em Il Barbiere di Siviglia (“O Barbeiro de Sevilha”).
Netrebko nasceu em Krasnodar (Rússia), em 18 de Setembro de 1971 numa família de origem cossaca de Kuban. Quando estudante no Conservatório de São Petersburgo... Link
2017/12/10
Daniel da Cruz um português norte-americano
Daniel da Cruz, de Vilar do Cadaval, irmão do meu pai Manuel da Cruz Narciso foi padre franciscano e missionário em Moçambique de 1906 a 1908.

Como missionário em Moçambique na região de Xai-Xai revelou a sua grande curiosidade científica que se traduziu em artigos que foram sendo então publicados na Gazeta das Aldeias e na revista franciscana A Voz de Santo António onde são referenciados 50 artigos sobre a população autóctone, economia, costumes, relações familiares, religiões e sobre a geografia local, a flora e a fauna nomeadamente artigos sobre os insectos. O bicho da seda, as borboletas, os grilos, as abelhas, e bicharada local de outra corpulência.
Estes artigos estão na base do livro que então, a pedido da Gazeta das Aldeias, publicou em 1910 "Em Terras de Gaza" (Porto - Gazeta das Aldeias, Rua Sá da Bandeira, 257 - 1º 1910. (Foto da capa acima).


Estes artigos estão na base do livro que então, a pedido da Gazeta das Aldeias, publicou em 1910 "Em Terras de Gaza" (Porto - Gazeta das Aldeias, Rua Sá da Bandeira, 257 - 1º 1910. (Foto da capa acima).
Em 1910 abandonou o sacerdócio e as crenças religiosas e emigrou para os EUA onde veio a falecer em 1966 com 86 anos.
Nos EUA obteve uma licenciatura em Biologia área em que se doutorou. Pessoa de grande curiosidade científica dedicou-se também ao estudo de astronomia e de línguas. Foi professor na Universidade de Princeton e na Universidade de Ohio. Publicou vários livros com estudos nestas áreas. Ofereceu-me um dos seus estudos sobre a Bíblia e a religião católica.

Por sofrer de dificulda-des respiratórias assim que se reformou mudou-se para a zona montanhosa do Colorado, para a cidade de Colorado Springs. Ele o filho Daniel, o neto Danny (filho de Francisco) e a sua 2ª mulher Louise, cada um em diferentes momentos, visitaram Portugal, e estiveram na casa dos meus pais em Vilar. Só não estive com Louise, em 1971 porque estava então "emigrado" cá dentro.

Entre as visitas de Daniel ao estrangeiro as que mais o atraíam e satisfez foi a visita à sua terra natal, o Vilar do Cadaval e aos lugares da Terra Santa que fez, quando já ateu, há muitos anos mas "terra santa" durante a sua juventude.
Junto imagens de Daniel quando era padre em 1908, uma da capa do seu livro sobre a sua participação missionária franciscana em Moçambique, publicado em 1910, outra com os meus pais, eu e a minha irmã, em casa dos meus pais no Vilar em 1953, outra com sobrinhos netos, em Vilar, em 1953, e por fim uma em que está junto da sua residência em Colorado Springs.
Frei David Azevedo, franciscano do convento do Varatojo (concelho de Torres Vedras) e natural de Vilar do Cadaval, foi colega e conterrâneo de Frei Daniel da Cruz de quem elaborou, nos anos 90 um projecto de biografia de que aqui apresento um resumo por ele então enviado.
MISSIONÁRIOS DO OESTE
FREI DANIEL DA CRUZ Naturalista Insigne.
Neste contexto brotou a vocação franciscana de mais um missionário do Oeste, Frei Daniel da Cruz. Nasceu no Vilar, no dia 1 de Março de 1880, filho de João da Cruz Narciso e de Joana das Dores; e lá foi baptizado com o nome de Manuel Maria. Vestiu o hábito franciscano- em Varatojo no dia 25 de Setembro de 1896 e professou no dia 30 de Novembro de 1897, com o nome de Frei Daniel da Cruz. A meio dos estudos de filosofia e teologia, que começou em S. Bernardino e, a partir de 1900, continuou em Montariol (Braga), forçado pelas perturbações causadas pelo decreto de Hintze Ribeiro, de 10 de Março de 1901, que reactivou a animosidade anticongreganista do liberalismo, refugiou-se em Espanha, com outros companheiros, onde prosseguiu os estudos na província franciscana da Bética (Sevilha).
Ordenado sacerdote em 1904, em 1 de Outubro de 1906 embarcou para Moçambique, chegando à Beira no dia 4 de Novembro. No dia 8 do mesmo mês foi colocado como coadjutor na recém-criada missão do Chongoene (Xai-Xai), em terras de Gaza.
Não foi
longa sua demora no campo missionário, porquanto, devido à agressividade do clima e à falta de recursos médicos, pouco
mais de um ano passado em Moçambique, em 1 de Janeiro de 1908, doente, teve de
regressar a Portugal. Mas se escasso foi o tempo, grande foi o seu empenho, não
só na evangelização, mas também -e principalmente - no campo da ciência.
Inteligente, observador e apaixonado pela natureza, dedicou-se ao estudo dos costumes indígenas e das riquezas naturais do mundo que o rodeava. Desse estudo resultou uma série de artigos que pouco a pouco foram aparecendo na Gazeta das Aldeias, que se publicava no Porto, os quais foram mais tarde publicados em livro, intitulado Em Terras de Gaza, Porto 1910.
Dos seus conhecimentos africanos e da bagagem científica que adquirira no currículo de formação, pela mesma altura - 1905-1910 - vêm a lume, na revista franciscana, A Voz de Santo António, uns cinquenta artigos sobre os insectos. O bicho da seda, as borboletas, os grilos, as abelhas (cinco artigos), as cigarras, os ralos, as libélulas, os myrmeleões, as formigas (sete artigos), os escaravelhos, as carochas, as joaninhas, os morilhões, as moscas, os mosquitos, as vespas, os cynipes, os gafanhotos, as lagartas, as baratas, as aranhas, as pulgas e outros bichos da espécie, formam variegada e encantadora exibição nas páginas da revista.
O campo científico do Frei Daniel da Cruz, dir-se-ia que não tem limites. Aparecem na referida revista artigos sobre a estrumeira, a agricultura, a higiene rural, a raiva, os terramotos (a propósito do terramoto de Messina) e ainda os trens Renard (sistema de transporte em estrada com locomotiva e vários atrelados); além das recensões de livros e revistas.
Em 22 de Outubro de 1910, poucos dias depois da implantação
da República, refugia-se nos Estados Unidos, onde virá a abandonar o sacerdócio
e a vida franciscana. Continuou, porém, sua paixão científica. Frequentou a
Faculdade de Ciências da Universidade Católica de Washington, onde se graduou
em 1915. Para efeitos de doutoramento apresentou o estudo intitulado A
Contribution to the life-history of Lilium Ternifolium.
Foi professor na Universidade de Princetown e publicou vários livros. Muito embora sua vida tivesse enveredado por rumos diferentes daqueles que iniciara como franciscano, manteve sempre um espírito liberal, característico aliás da escola franciscana de Montariol e da revista A Voz de santo António, o encanto franciscano pela natureza e a inquietação e busca de Deus. Veio a falecer em 27 de Dezembro de 1966, no Estado do Colorado. Figura notável que merece ser mais conhecida., principalmente na nossa região.
Foi professor na Universidade de Princetown e publicou vários livros. Muito embora sua vida tivesse enveredado por rumos diferentes daqueles que iniciara como franciscano, manteve sempre um espírito liberal, característico aliás da escola franciscana de Montariol e da revista A Voz de santo António, o encanto franciscano pela natureza e a inquietação e busca de Deus. Veio a falecer em 27 de Dezembro de 1966, no Estado do Colorado. Figura notável que merece ser mais conhecida., principalmente na nossa região.
2017/12/09
Hvorostovsky e Garanca - deslumbramento
Hvorostovsky era um barítono com uma voz deslumbrante. Morreu em 22 de Nov de 2017, com 55 anos devido a um tumor no cérebro. Aqui vêmo-lo com a bela mezzo-soprano Garanca que tem uma voz não menos esplendorosa. Ele é russo de Krasnoyarsk e ela letã de Riga, nascida a 16 de Set de 1976.
«O crítico britânico Norman Lebrecht, da BBC3, recordou o barítono russo, como "o melhor 'Eugene Onegin' da atualidade, o Don Giovanni mais sensual e o dominante Rigoletto", numa referência às suas interpretações dos protagonistas de Tchaikovsky, Mozart e Verdi.
Nascido na cidade de Krasnoyarsk, na Sibéria, Hvorostovsky desenvolveu uma carreira de renome desde a década de 1980, depois de escapar a uma vida nas ruas, enquanto adolescente, e de conseguir ultrapassar um problema com o álcool que podia ter posto fim a um percurso aplaudido pela crítica e pelos públicos que o viram e ouviram, como recorda o New York Times.
Em 1989, venceu a competição internacional de canto lírico, em Cardiff, no Reino Unido, batendo o barítono Bryn Terfel.
Segundo a biografia patente no 'site' oficial, o Hvorostovsky foi o primeiro cantor de ópera a realizar um concerto a solo com orquestra e coro na praça Vermelha, em Moscovo, que foi transmitido em mais de 25 países.
Em maio, apresentou-se na Metropolitan Opera Gala, em Nova Iorque, onde surpreendeu o público presente com uma aparição inesperada em palco, para cantar "Cortigiani, vil razza dannata", do "Rigoletto", de Verdi. No mês anterior, cancelara a participação no elenco de "Eugeni Oneguin", de Tchaikovsky, naquele teatro.
Em junho, atuaria pela última vez, em Krasnoyarsk, a sua cidade natal.
2017/11/24
Katyucha por Hvorostovsky
Morreu esta, 4ª feira, 22/Nov. Chamava-se Dmitri Xboroctobcky. Era barítono. e, ao que consta, a voz mais poderosa da actualidade. Era russo, de Krasnoyarsk, na Sibéria. Um tumor na cabeça matou-o aos 55 anos. Vamos ouvi-lo a cantar a popular Katyucha.
Aqui dão notícia mais detalhada
2017/07/14
Entrevista de RN ao site iSLEEP
Em 15 de Julho de 2015 fui auscultado por Paulo Gaião, responsável editorial do site iSleep para uma entrevista:
"Na sequência
do contacto telefónico, envio em anexo perguntas destinadas a entrevista ao
site iSleep (www.isleep.pt) da Professora Teresa Paiva,
especialista em medicina do sono, que se publica desde 15 de Janeiro de 2015."
Recordo que
os anteriores entrevistados foram António Mega Ferreira, Maria de Belém
Roseira, Marcelo Rebelo de Sousa, Frei Bento Domingos, Alice Vieira, José
Rodrigues dos Santos, Cristina Esteves, José Luís Peixoto, Elisabete Jacinto,
Isabel do Carmo, Jacinto Lucas Pires. Katia Guerreiro, Fernando Dacosta, Maria
do Rosário Carneiro, Alberta Marques Fernandes, Carlos Poiares e António Pinho
Vargas. "
Teria aceitado mesmo sem a vantagem de me juntar a pessoas tão notáveis no panorama político/cultural pátrio.
Resposta no site : http://www.isleep.pt/a-clandestinidade-nao-alterou-o-meu-ritmo-de-sono/ e que aqui reproduzo:
“A CLANDESTINIDADE NÃO ALTEROU O MEU RITMO DE SONO”
Raimundo
Narciso, ex-militante comunista, viveu na clandestinidade 10 anos (no site está "15 anos" mas não creio ter dado resposta errada) mas nem por
isso o seu ritmo de sono se alterou. Foi um dos operacionais da Acção Armada
Revolucionária, o braço armado do PCP antes do 25 de Abril. Diz ao iSleep que
antes de uma operação “o sono era menos sossegado”. Dormiu pouco no 25 de
Novembro de 1975. “Foi uma noite agitada. Alguns de nós dormimos por turnos. Do
que me lembro dormi muito pouco”.
O
Raimundo Narciso tem um longo passado político que remonta a muito antes do 25
de Abril e à militância no PCP. Como antigo militante comunista que chegou a
viver na clandestinidade, o sono era muito menos tranquilo?
Em
certos momentos de maior perigo, o sono era menos tranquilo. Durante os dez
anos de clandestinidade surgiram muitos desses momentos mas eram em geral
episódios de uma noite. A clandestinidade não alterou o meu ritmo de sono.
Como
foi visitar Moscovo penso que pela primeira vez em 1965? Que impressões trouxe?
Sem
escamotear os aspectos profundamente negativos que levaram à falência do regime
soviético, nomeadamente a falta de liberdade política, a característica mais
impressiva que retive foi a de uma sociedade incomparavelmente mais igualitária
e justa do que a do capitalismo.
Um
estudo de Hight Pay Center (centro de reflexão independente) diz que os
administradores executivos (CEO) de grandes empresas, no Reino Unido, tinham em
2014, um salário 183 vezes superior à média dos salários dos trabalhadores. Nos
EUA os salários de alguns administradores executivos são ainda mais “obscenos”.
Por exemplo, o CEO da McDonald, de acordo com David Michaels, da Bloomberg, ganha
644 vezes mais que o salário médio da empresa que dirige. Na URSS essa
diferença medir-se-ia por cinco ou dez vezes no máximo.
Em
Moscovo impressionava pela negativa a falta de habitação, atribuída às
destruições da invasão nazi, ou a desoladora ausência de sofisticação no “design”
da grande maioria dos produtos comerciais.
Pela
positiva impressionava o ter-se emprego assegurado e a educação gratuita,
incluindo a universitária, e o acesso fácil à cultura e à arte, a preços baixíssimos.
E
como foi viver uns meses na URSS? Foi fácil adaptar-se à diferença horária?
Quanto
ao sono não dei pela diferença de fuso horário.
Quanto à vida por lá, a frequência em 1966/7, de um curso no Instituto Superior
do Konsomol ofereceu-me nove meses de contacto com a população de Moscovo e não
só.
O
curso permitiu o contacto com centenas de jovens de todas as repúblicas da URSS
e de dezenas de países de todos os continentes.
Esse
convívio, com a inerente troca de informação e de experiências culturais e
políticas nacionais, foi um momento inesquecível. No entanto, havia uma
restrita e inconveniente diversidade ideológica, mesmo que uma parte dos
alunos, quer da Europa e especialmente de África e Ásia, não fossem filiados em
partidos comunistas.
E
nos meses em que viveu em Cuba? Que impressões trouxe? Aqui o fuso horário era
diferente e a diferença horária maior….
Quanto
ao sono senti inicialmente a diferença de fuso horário e como a viagem durou
cerca de 22 horas e tenho dificuldade em dormir nas viagens, cheguei a Havana
praticamente com uma noite em claro. A viagem Moscovo-Havana fazia-se via
Murmansk, cidade no Círculo Polar Ártico, e depois pelo Atlântico abaixo porque
na altura os países da NATO não autorizavam a passagem de aviões soviéticos no
seu espaço aéreo, o que obrigava a esta insólita rota.
Em
Cuba o mais impressionante nessa altura, em 1965, era a intensa campanha do
governo para mobilizar voluntários para o corte da cana-de-açúcar, principal
fonte de riqueza da ilha. Era diário o anúncio nos media dos “campeões
populares” no corte da cana em que também apareciam os hierarcas do regime,
incluindo Fidel Castro. Ainda não tinham máquinas e o corte em poucas semanas
de milhares de hectares de cana exigia milhares de “macheteros”.
Visitei
o bairro chique de Havana onde, antes da revolução, só entravam brancos,
principalmente norte-americanos com criados negros, e agora tinha as luxuosas
vivendas, palácios e palacetes já um pouco degradados maioritariamente
transformados em escolas dos mais diversos ofícios, bem como lares ocupados por
jovens camponeses que nunca tinham visto uma cidade.
Havia
ainda um investimento notável na educação e na formação de quadros científicos,
em especial na medicina.
Há
alguma história curiosa que recorde desses tempos na URSS e em
Cuba?
Em
Moscovo vi os passageiros de um autocarro interpelarem um homem que entrou e se
“esqueceu” de tirar o bilhete no dispensador de bilhetes à entrada do
autocarro. Contrariado voltou atrás e lá meteu a moeda.
No
Instituto Superior do Konsomol assisti à separação dramática e pungente, no fim
do curso, de uma guatemalteca guerrilheira e clandestina de um colega
universitário italiano não comunista. Tinham-se apaixonado mas nem o italiano
se disfarçaria bem na guerrilha urbana, no caso pouco provável de se lhe querer
juntar, nem ela aceitaria abandonar a luta de libertação no seu país e ir para
Roma numa aventura incerta.
Em
Havana, ao passear pela cidade deparei com um arraial popular fora do centro, muito parecido com os da minha aldeia. A insólita diferença surgiu no fim pois
na minha terra a festa não findava com a banda a tocar a Internacional.
Noutra
altura, em 1983, na iminência de um encontro de delegações de Partidos
Comunistas com Fidel Castro disse ao meu jovem intérprete que não era
indispensável ele ir comigo porque entendia bem a língua. Respondeu-me alarmado
“não me faça isso! É a minha oportunidade de falar com o comandante em chefe!”
Em
Portugal viveu em várias casas clandestinas. Sentiu que diferentes condições,
de local e tipologia, lhe afectaram as rotinas do sono?
Só
aconteceu nalguns casos, apesar de vivermos sempre sob a tensão do perigo, do
inesperado, obrigando-nos a pensar e programar toda a conduta quotidiana.
Em
certo sentido a vida clandestina era um pesadelo sem intervalos. Mas quem se
preparara para tal vida, a vida estranha do clandestino era afinal uma vida
“quase” normal. Sucedeu assim comigo, uma vida sem pânicos e quase quase
normal. Mas houve quem não aguentasse e rumasse ao estrangeiro e até quem
enlouquecesse.
Dormia
bem em geral. Só em determinados momentos a seguir a algum susto ou tensão
inabitual o sono era perturbado. Porque habitual era a situação de perigo.
Desenvolveu
acções armadas contra o antigo regime no quadro da ARA. Nas vésperas das acções
era difícil dormir?
Nesses
momentos o sono era menos sossegado. Não tanto pelo perigo em si mesmo mas pelo
receio de que algum imprevisto pudesse inviabilizar o plano de acção
meticulosamente preparado. A noite que antecedia as acções era sem dúvida menos
serena procurando mentalmente prever todos os imprevistos.
Porque
é que a ARA suspendeu a luta armada em 1 de maio de 1973?
Porque
se considerou que na conjuntura política em 1973, caracterizada pela participação
de novas camadas da população na luta contra o regime, particularmente por
influência dos chamados católicos progressistas, as ações armadas dariam
pretexto a maior repressão. Por seu lado, em vez de incentivarem poderiam
atemorizar tais camadas da população que só timidamente surgiam na oposição ao
regime.
O
25 de Abril, menos de um ano depois, tornou definitiva a suspensão das acções e
o fim da ARA.
Há historiadores que consideraram que o comunicado da ARA a anunciar a
suspensão das acções era apenas uma forma habilidosa de esconder que a
organização fora desmantelada pela PIDE/DGS com a prisão, por denúncia, de oito
dos seus principais operacionais entre Janeiro e Março de 1973. Na realidade
essas prisões foram um golpe sério na organização mas a maior parte da ARA não
fora atingida, nomeadamente o comando central, os quadros ilegais e a maior
parte dos “legais” assim como toda a estrutura logística. A ARA estava em
condições de prosseguir a sua actividade. Parece estranho, nos tempos que correm,
que uma declaração política (comunicado da ARA de maio de 1973) possa ser
inteiramente verdadeira e não apenas uma forma de ludibriar eleitores. Mas a
ARA não concorria a eleições.
Após
o 25 de Abril viveram-se tempos políticos muitos agitados, de homens e mulheres
sem sono? Lembra-se de alguma história do PREC que envolva o sono ou a falta
dele?
Houve
pelo menos três momentos em que se passaram noites sem dormir, três momentos
cruciais de oposição ao processo revolucionário. Dois que, derrotados, aceleraram
as mudanças, a manifestação da “maioria silenciosa” em 28 de Setembro de 1974 e
a tentativa de golpe do general Spínola, em 11 de Março de 1975. E um que saiu
vitorioso e pôs fim ao PREC, o golpe do 25 de Novembro de 1975.
Muitos
comunistas estiveram fortemente mobilizados no 25 de Novembro de 1975. Como foi
essa noite? Poucos pregaram olho?
Foi
uma noite agitada. Alguns de nós dormimos por turnos. Do que me lembro dormi
muito pouco.
Conheceu
bem Álvaro Cunhal. Que impressões guarda dele? Apercebeu-se, em alguma
conversa, se era um homem com problemas para dormir? Ou pelo contrário, tinha
um sono fácil?
Era
uma figura carismática, insinuante e de vasta cultura. Com uma capacidade de
trabalho invulgar. Cunhal era um líder reconhecido e de uma craveira superior,
mesmo no âmbito internacional.
Na
primeira reunião do comité central do PCP em que participei, no estrangeiro, em
1972, e que durou quatro dias, Cunhal trabalhava incansavelmente, dormindo
escassas horas por noite, e aparentemente não tinha sono de dia.
O
que pensa da expressão Deus não dorme?
Dado
o ” vale de lágrimas” em que boa parte da humanidade sobrevive – tenhamos
presente a catástrofe humanitária dos refugiados no Mediterrâneo, provocada
pela intervenção armada ocidental no Iraque, no Afeganistão, na Síria ou na
Líbia – a expressão “Deus não dorme” tende a provar que Deus ou não
existe… ou então que dorme.
A sentença serve também para convocar os simples à resignação perante as
injustiças terrenas, oferecendo-lhes a recompensa e o castigo dos maus mas… no
céu.
Já
teve insónias? É mais “coruja” ou “cotovia”?
Durmo
bem e a tendência, depois de reformado, é para deitar tarde.
Já
houve alturas em que sentiu que o sono foi bom conselheiro?
Sim.
Quando o problema é complexo e não tenho de decidir imediatamente, deixo sempre
a decisão para depois de um bom sono e o resultado é bom.
Tem
alguma história pessoal ou profissional divertida com o sono ou a falta
dele?
Quando
cumpria o Serviço Militar Obrigatório no Quartel General da 3ª Divisão, em
Santa Margarida, em 1962, passei três dias de licença em Lisboa envolvido em
lutas académicas com duas noites sem dormir. Quando regressei ao quartel por
estar suplente ao serviço de oficial de dia, fui acordado pelo meu “impedido”.
Estremunhado perguntei-lhe se já tinha perdido o pequeno almoço? Respondeu-me:
“Oh meu alferes são quase horas de jantar”.
Pode
contar-nos um sono fantasioso que tenha tido?
Ia num voo de
treino de pára-quedismo. Quando saltei do avião e voava alegremente dei pela
falta do pára-quedas, então, na iminência de me esmagar no chão salvei-me
acordando a tempo, em sobressalto e aos gritos.
2017/06/08
Watch Obama ‘hey-ho’ his way through Ray Charles’ ‘What’d I Say’
Com Bush ou Obama a política da Casa
Branca manteve-se fiel aos interesses das suas multinacionais, do Pentágono, dos
multimilionários, manteve-se fiel ao domínio imperial. Mas como personagem
Obama marcou a diferença. Nem estou a alargar a comparação à inimaginável
avantesma do presente.
Video by PBS/In Performance at the White House
After saying he wasn’t going to sing Wednesday night, President Barack Obama broke his promise at the tail end of a Ray Charles tribute concert at the White House.
The president thanked the crowd that had packed into the East Room of the White House in what was the final “In Performance” concert, a long-standing series produced by WETA since the late 1970s, of his administration.
“It is fitting that we pay tribute one of the most brilliant and influential of our times: the late, great ‘Genius’ himself, Mr. Ray Charles,” Obama said of the iconic soul musician, amid Black History Month.
The nights performers capped the musical tribute to the singer with a live performance of Charles’ immortal “What’d I Say.” Usher led the song, before Leon Bridges, Demi Lovato, Brittany Howard and others all joined the stage. At the end of the song, Obama, with the first lady nearby, led the crowd through the song’s famous hey-ho call and response.
PBS stations nationwide will air “Smithsonian Salutes Ray Charles: In Performance at the White House” tonight, Feb. 26, 2016, at 9 p.m. EST. Check your local listings.
Editor’s note: The headline has been changed to reflect the correct spelling of Ray Charles’ song “What’d I Say.”
2017/06/07
Vou tentar falar sem dizer nada
VOU
TENTAR FALAR SEM DIZER NADA
Eu vou tentar, prometo, que destes versos
Não saia uma canção mal comportada
Eu vou tentar não falar do que acontece
Eu vou tentar falar sem dizer nada.
Não vou, por isso, falar da exploração
Nem sequer do amor à Liberdade;
Da luta pela terra e pelo pão
E do apego à Paz da humanidade.
Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada
Vocês preferem que eu vos fale
De grilos a cantar e gambuzinos?
A vossa vontade será feita
Eu calarei a fome dos meninos.
Vocês preferem que eu vos cante
Sem vos lembrar os tiros e as facas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o frio das barracas
Vou tentar não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada
Vocês preferem que eu vos fale
Com um sorriso a iluminar-me as trombas?
A vossa vontade será feita
Eu calarei o estilhaçar das bombas.
Vocês vão gostar que eu não cante
A luta de nós todos todo o ano
A vossa vontade será feita
Não falarei do povo alentejano
Vou tentar
não falar do que acontece
Vou tentar falar sem dizer nada
Não falarei do luxo e da miséria
Não falarei do vício e da canseira
Não falarei das damas, das mulheres
De tudo o que se passa à nossa beira
Não falarei do Amor, nem da Verdade
Nem do suor deixado no trigal;
Eu não ofenderei vossas excelências
Nem a civilização ocidental!
2017/03/04
A BeataZita Voz do Centenário
Não estejam preocupados com o perigo de qualquer pestilência porque limpei com álcool e clorofórmio.
Dado que Portugal é país de milagres o Santo Padre, está a ponderar - segundo círculos da Santa Sé bem informados - quando visitar Fátima, neste ano do 100º aniversário da aparição de Nossa Senhora numa azinheira, aos pastorinhos, canonizar não apena a irmã Lúcia mas também a BeataZita tendo em conta o 4º segredo de Fátima o da conversão da Rússia (de ortodoxa a católica suponho).
Contenham as lágrimas.
2017/02/03
Almada Negreiros na Gulbenkian
A Gulbenkian vai mostrar-nos 400 obras do
grande Almada Negreiros (1993-1970). Pintura, desenho, vitral, cerâmica,
cinema, teatro, dança, poesia. Tudo. O futurista, o vanguardista, o surrealista
foi amigo de Fernando Pessoa, que o tratava carinhosamente como o "bebé do
Orpheu", amigo de Amadeu Sousa Cardoso, de Sá Carneiro ou Santa Rita
Pintor.
Conheci-o em 1957, em Lisboa, numa
conferência na Sociedade Nacional de Belas Artes, em que ele mostrava os 4
quadros, geometria a preto e branco (aqui em baixo), que estão no Museu de Arte
de Moderna da Fundação Gulbenkian e nos explicava, atónitos, a magia da relação
9-10 e outros conspícuas transcendências exotéricas. Almada a todos
impressionava pela pintura, pela palavra e pela irreverente atitude.
Dois anos mais tarde confraternizei diariamente com o filho,
também José Almada Negreiros como o pai e também ele uma figura, quanto
cumpríamos o serviço militar obrigatório, em Vendas Novas, em Cascais e em
Torres Novas.
Depois do 25 de Abril, já não nos víamos
há muito – “et pour cause” - fui jantar com ele e o Ernâni Pinto Basto a
"O velho Mirante", na Pontinha. Eu e o Ernâni chegamos nuns carritos
rafeiros, de 1200 cc de cilindrada quando o Almada se apeou de um deslumbrante
Porsche. Não nos querendo deixar mal olhou para os nossos carros de pechisbeque
e garantiu " Eh pá, não tenho dinheiro para andar a comprar carros desses
e ter de mudar todos os anos!"
Já ambos nos deixaram.
__________________
Não se distraiam: 400 obras do grande Almada, na Gulbenkian.
2017/01/18
Zeca Afonso canta José Dias Coelho. "A morte saiu à rua"
A Canção do Zeca Afonso é dedicada ao Pintor Dias Coelho (1924 - 1961). Em baixo: fotos de Dias Coelho, da mulher, Margarida Tengarrinha (anos 80?) e das duas filhas, Teresa Dias Coelho (anos 2000 ?) também pintora e Margarida Dias Coelho (anos 2000?) a mais nova.
Seguem-se gravuras de Dias Coelho.
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«Eram oito horas da noite, de 19 de Dezembro de 1961. José Dias Coelho, funcionário clandestino do PCP, seguia pela Rua dos Lusíadas [em Lisboa]. Cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão. Os assassinos meteram-no num carro e partiram a toda a velocidade. Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF. «De todas as sementes deitadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas»: eis a legenda que José Dias Coelho dera à sua última gravura, criada um mês antes de ser assassinado, e representando o assassínio do operário Cândido Martins Capilé à frente de uma manifestação popular.»
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A Morte Saiu À Rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação.
Julgamento de antifascistas
"Tipografia" usada na clandestinidade.
2017/01/03
2016/12/29
Coro Alexandrov do Exército Vermelho
64
deles já não cantam nem dançam mais. Seguiam no avião que se despenhou, no dia
de Natal, no Mar Negro, quando se dirigiam para a Síria para festejar a passagem
do Ano com os militares russos ali destacados.
2016/12/13
Visita à Fortaleza de Peniche no Dia Internacional dos Direitos Humanos
Intervenção de Raimundo Narciso, em nome do Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória" - NAM no almoço que se seguiu à visita ao Forte de Peniche, no dia 10 de Dezembro de 2016. Intervieram em seguida Teresa Gago em nome da Plataforma Cascais e José Pedro Soares dirigente da URAP.
Estamos aqui para defender e valorizar o futuro deste
grandioso monumento como ícone nacional
da resistência de um povo que aspirava à liberdade, no âmbito da defesa da
Memória histórica dos Portugueses e por conseguinte da preservação da sua
identidade como povo e como nação.
Ou entre nós, por exemplo o professor Eduardo Paz Ferreira, de que refiro apenas o seu último livro “Por uma Sociedade Decente”. E que pensar da situação em Portugal, quando em 2012, um ano de perda nos salários, perda nas reformas, de grande empobrecimento de milhões de portugueses, nesse mesmo ano, de acordo com o "Relatório de Ultra Riqueza no Mundo - 2013", do banco suíço UBS, os 870 multimilionários portugueses aumentaram as suas fortunas de 90 para 100 mil milhões de dólares. A riqueza que falta a milhões de empobrecidos é a que se transferiu para o bolso de umas dezenas.
Que nos trouxe, hoje, aqui à
Fortaleza de Peniche no Dia Internacional dos Direitos Humanos?
A Plataforma Cascais,
que está na origem desta visita à Fortaleza de Peniche que hoje aqui nos reúne,
convidou o Movimento Cívico “Não Apaguem
a Memória” que prontamente aceitou participar na sua organização. A visita tem,
aliás, o apoio nomeadamente da Associação 25 de Abril e de Vasco Lourenço, de
José Pedro Soares do Conselho Directivo da URAP, do director do Museu do Aljube,
professor Luís Farinha ou do director do Centro de Documentação 25 de Abril, professor
Rui Bebiano, de ex-presos políticos que não puderam aqui estar, como o
historiador António Borges Coelho ou o tarrafalista Edmundo Pedro, e muitos
outros ex-presos, familiares, cidadãos em geral.
O que nos trouxe hoje aqui, no Dia Internacional dos Direitos
Humanos?
Foi a decisão de homenagear os ex-presos políticos que neste
presídio sofreram violências inauditas por terem lutado pela liberdade, pela
democracia, por uma vida melhor do povo trabalhador. Foi a decisão de
homenagear todos os que, em quase meio século de ditadura, lutaram
abnegadamente por um país livre.
Trouxe-nos aqui a vontade de homenagear o povo de Peniche que
nessa longa e tenebrosa noite política se solidarizou com os presos e apoiou as
suas famílias que em ambiente de violência, medo e precariedade aqui os vinham visitar.
E estamos aqui para defender e apoiar a Fortaleza de Peniche
como um inalienável bem pertença de
Peniche e dos seus habitantes que justamente com o apoio da sua CM e do seu
presidente, António Correia, querem que esteja também ao serviço da sua comunidade
e do desenvolvimento local.
A projeção nacional e importância histórica e identitária da
Fortaleza de Peniche obriga o poder central, os governos, a Assembleia da
República a assumirem as suas responsabilidades na defesa deste valioso património,
na sua conservação física, no apoio à transformação do núcleo museológico num
verdadeiro museu que pode ter várias
valências, mas em que a principal seja, sem dúvida, a que diz respeito à
antiga prisão política do
salazarismo, à valorização do heroísmo dos que aqui sofreram e do significado
da sua luta mas também sobre a história
da Fortaleza na estratégia da defesa do território e o museu poderá
eventualmente ter outras valências que os grupos de trabalho a criar pelo
Estado Central e a CM de Peniche bem entendam.
A Fortaleza deve igualmente ser vista como um bem para o
desenvolvimento local, o que implica que se estude que serviços ou actividades
se podem estabelecer no espaço da Fortaleza, criando postos de trabalho e
tornando-a local aprazível para fruição da comunidade local sem que isso choque
ou contradiga o essencial, o carácter museológico e de referência histórica da
Fortaleza.
Estes objectivos de carácter predominantemente local devem
estar ligados a outro objectivo central, o da sustentabilidade financeira deste
complexo monumental. Se é certo que grande responsabilidade caberá ao poder
central todos sabemos que isso não é garantia suficiente para a sua conservação
ao longo do tempo e para a valorização da actividade museológica.
Uma orientação que nos parece ser de privilegiar e vai no
sentido das metas acima apontadas é a de incluir a Fortaleza no circuito
turístico cultural no âmbito nacional e
internacional, à semelhança de muitos outros locais de referência, por essa
Europa fora. Exigirá isso um esforço de
promoção organizado e permanente.
O NAM, a Plataforma Cascais a URAP e outras associações e movimentos
que já manifestaram apoio a esta causa poderão dar uma ajuda nesse sentido. O
NAM procurou através das suas ligações saber da possibilidade de a CM de
Peniche poder candidatar-se a projectos da União Europeia para a valorização da
Fortaleza e concluiu numa primeira abordagem que há programas com esse fim e
isso é possível.
Procuraremos também exercer influência pelos meios ao nosso
dispor no sentido de sensibilizar os poderes públicos a assumirem as suas
responsabilidades para com este importante monumento Nacional.
Uma última observação. A defesa da Memória Histórica da luta
pela liberdade no regime fascista é o objecto da nossa associação o Movimento
Cívico Não Apaguem a Memória. A defesa da memória, desta Memória dos que
lutaram por um Portugal democrático e um mundo melhor, mais justo e mais digno,
não é uma atitude de quem quer estar irremediavelmente virado para o passado
mas de quem, conhecendo o passado e dele retira lições, melhor se pode orientar
no presente e no futuro na luta por uma vida melhor, mais justa e menos
desigual.
Não estamos, é certo, confrontados hoje em Portugal com o
fascismo apesar dos sinais por esse
mundo fora começarem a ser preocupantes.
As desigualdades sociais, o abismo das desigualdades sociais, que se tem vindo a acentual de
forma brutal nas última décadas na EU e na maior parte do mundo, constitui hoje
o principal factor gerador de crises económicas, crises sociais e de guerras.
O avolumar das desigualdades é centro de preocupação e de
estudo de grande número dos mais clarividentes académicos e dos mais
responsáveis políticos. Cito apenas alguns nomes que constituem referência
mundial, como os prémios Nobel Joseph Stiglitz e Paul Krugman ou, quem diria! a
própria presidente do FMI Christine Lagarde que em Maio de 2014, numa
conferência em Londres, ao denunciar os perigos da desigualdade usou esta
imagem:


“aqui num destes vossos autocarros londrinos de dois pisos
cabem os 85 homens mais ricos do planeta que possuem tanta riqueza como a
metade da humanidade mais pobre, tanto como 3 mil e 500 milhões de pessoas.“
Ou entre nós, por exemplo o professor Eduardo Paz Ferreira, de que refiro apenas o seu último livro “Por uma Sociedade Decente”. E que pensar da situação em Portugal, quando em 2012, um ano de perda nos salários, perda nas reformas, de grande empobrecimento de milhões de portugueses, nesse mesmo ano, de acordo com o "Relatório de Ultra Riqueza no Mundo - 2013", do banco suíço UBS, os 870 multimilionários portugueses aumentaram as suas fortunas de 90 para 100 mil milhões de dólares. A riqueza que falta a milhões de empobrecidos é a que se transferiu para o bolso de umas dezenas.
Hoje o essencial do assalto, do roubo que eram o objecto das
guerras, não se faz como na idade Média, com espadas e cavalaria ou como nas guerras
mundiais do século XX, com metralhadoras, tanques, e canhões. Hoje o essencial
da transferência de riqueza de milhões de seres humanos para umas centenas é
feita pelo grande casino do sistema financeiro mundial desregulado e pela
comunicação social que controla as mentes e os votos.
Mas que tem isto a ver com a Fortaleza de Peniche? Que tem
isto a ver com a memória Histórica da luta dos portugueses contra a ditadura do
“Estado Novo? Tem muito. Evoca-nos o passado de lutas heróicas de milhares de
portugueses por uma vida digna contra o poder que os explorava e reprimia.
Manter vivos estes exemplos, valorizar a Fortaleza de Peniche, serve também
para nos dar alento e instigar, hoje, à intervenção cívica e política por um
mundo melhor.
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Nota: um clique nas imagens amplia-as
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