2020/10/26

HOJE - HÁ 50 ANOS A 1ª ACÇÃO DA ARA - A SABOTAGEM DO CUNENE

 Hoje, 26 de Outubro de 1970, há 50 anos! às 5h da madrugada a Acção Revolucionária Armada - ARA levou a cabo a sua primeira acção contra o fascismo, contra a guerra colonial com duas grandes explosões no mais moderno cargueiro de transporte de armas e outras mercadorias de apoio à guerra colonial em Angola, Guiné e Moçambique.

A acção armada foi estudada e decidida no comando central da ARA (Jaime Serra, Francisco Miguel e Raimundo Narciso), executada sob direcção de RN por Gabriel Pedro e Carlos Coutinho com o apoio de António Pedro Ferreira, António João Eusébio, Victor Eça e Manuel Policarpo Guerreiro e o apoio de rectaguarda das respectivas companheiras.
Gabriel Pedro pai de Edmundo Pedro, ambos já falecidos, tinha então 72 anos. Era perseguido pela PIDE, preso muitos anos no campo de concentração do Tarrafal juntamente com o filho de 17 anos, também preso político e estava exilado em Paris. Soube da criação da ARA e pediu insistentemente a Álvaro Cunhal, então em Paris, para participar na primeira acção da ARA. E assim com credencial, senha e contra-senha nos encontrámos, em Outubro de 1970, no local combinado, próximo da Calçada da Ajuda, em Lisboa. 
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Eis um recorte da notícia saída num dos principais matutinos de então, o jornal  O Século.:


    
                                                                                            Postal de propaganda da acção armada      

         
Foto de documento encontrado pelo autor deste "post", na Torre do Tombo, para o seu livro sobre a ARA. A imagem mostra um dos rombos no costado do navio com um trabalhador no porão com água até à cintura. 
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Este foi o primeiro comunicado da ARA que óbviamente a Censura não deixou publicar mas correu pelas vias da clandestinidade e foi divulgado pelas rádios clandestinas: a Rádio "Voz da Liberdade" (unitária) a partir de Argel e Rádio Portugal Livre (do PCP) a partir da Roménia. Ouviam-se esta e outras rádios desafetas ao regime fascista, em onda curta com o som abafado para os vizinhos (e... a PIDE) se não aperceberem.

  ACÇÃO   REVOLUCIONÁRIA   ARMADA  (ARA)

 -- Comunicado –

Hoje , dia 26 De Outubro, cerca das cinco horas da manhã, um comando da ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA (ARA), levou a cabo com êxito a primeira operação revolucionária armada contra o aparelho de guerra do governo fascista. 

Em virtude desta acção ficou alagado e imobilizado na doca de Alcântara, em Lisboa, com grande rombo o navio CUNENE de 160.000 toneladas que é utilizado para alimentar a guerra de opressão colonial. O Comando Central da ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA declara que ao atacar a máquina de guerra que alimenta a guerra colonial não estamos contra os soldados, os sargentos e oficiais honrados, forçados a fazer uma guerra que odeiam. Estamos, sim contra a continuação desta criminosa guerra de opresso colonial que se transformou num flagelo para os povos de Angola, Guiné e Moçambique e num cancro que corrói a nação, que queima vidas e bens do povo português para servir os interesses dum punhado de monopolistas sem pátria. Estamos solidários com a justa luta libertadora dos povos coloniais. 

A ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA propõe-se conduzir a sua acção revolucionária no quadro da luta geral do povo português contra a ditadura fascista e pela conquista da liberdade. Deste modo a ARA não se desliga da luta revolucionária das massas, da luta dos operários e camponeses, da luta dos estudantes e intelectuais revolucionários contra a política fascista do governo de Marcelo Caetano; antes se propõe secundá-la até à insurreição popular armada que destruirá para sempre a ditadura fascista e o poder dos monopólios e latifundiários, assim como o domínio imperialista no nosso país.

      26 de Outubro de 1970

 VIVA A INSURREIÇÃO POPULAR ARMADA!

                                                O Comando Central

                                                da ACÇÃO REVOLUCIONARIA ARMADA


Aqui neste link  encontrará informação sobre as acções da ARA e os respectivos executantes, sobre o comando central e outras nomeadamente este quadro :

A publicação do nome dos participantes na actividade da ARA, constantes do livro ARA-Acção Revolucionária Armada, publicado pela Editorial D. Quixote, em 2000, foram autorizados pelos próprios. 
 



 

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