É um livrinho já muito decrépito
de uma edição brasileira de 1949, que guardo religiosamente para deixar em herança aos netos.
Conta histórias surpreendentes muito
apreciadas para quem gosta de números.
São histórias ao alcance de
catedráticos com pelo menos a antiga 4ª classe da instrução primária, portanto
não se assustem, os que são de Letras! Comecei a fazer um scaner do livro quando me lembrei que já não estamos em 1949 e portanto - quem sabe! isto não estará aí na net. E está. Deixo-vos o link no fim.
A história é contada pelo
xerife Ali Iezid Izz-Edim ibn Salim Hank Malba Tahan (crente de Allah e de seu
santo profeta Maomé) em 19 da Lua do Ramadão de 1321.
Conta ele:
“Em nome de Alá,
Clemente e Misericordioso! Voltava eu, certa vez, ao passo lento do meu camelo,
pela estrada de Bagdad, de uma excursão à famosa cidade de Samarra, nas margens
do Tigre, quando avistei, sentado numa pedra, um viajante, modestamente
vestido, que parecia repousar das fadigas de alguma viajem. Dispunha-me a
dirigir ao desconhecido o “sala” trivial dos caminhantes quando, com grande
surpresa, o vi levantar-se e pronunciar vagarosamente: - Um milhão,
quatrocentos e vinte e três mil, setecentos e quarenta e cinco! Sentou-se em
seguida e quedou em silêncio, a cabeça apoiada nas mãos, como se estivesse
absorto em profunda meditação.
...
Encurtando razões: Malba
Tahan estava perante “o Homem que Calculava” um sábio dos números.
- Chamo-me Beremiz
Samir e nasci na pequenina aldeia de Khói, na Pérsia, à sombra da pirâmide
imensa formada pelo Ararat. - Apresentou-se o sábio.
Era um sábio, não era
um banqueiro e por isso era pobre e ia a pé para Bagdad. Ficaram amigos e Malba
Tahan acomodou-o no seu camelo e seguiram viagem.
- Poucas horas havia que
viajávamos sem interrupção – conta-nos Malba Tahan - quando nos ocorreu uma
aventura digna de registo, na qual meu companheiro Beremiz, com grande
talento, pôs em prática as suas habilidades de exímio algebrista. Encontramos
perto de um antigo "caravançará" meio abandonado, três homens que discutiam
acaloradamente ao pé de um lote de camelos. Por entre pragas e impropérios
gritavam possessos, furiosos:
- Não pode ser! - Isto
é um roubo! - Não aceito!
O inteligente Beremiz
procurou informar-se do que se tratava.
- Somos irmãos –
esclareceu o mais velho – e recebemos como herança estes 35 camelos. Segundo a
vontade expressa de meu pai, devo receber a metade, o meu irmão Hamed Namir uma
terça parte, e, ao Harim, o mais moço, deve tocar apenas a nona parte. Não
sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos, e, a cada partilha
proposta por um segue-se a recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e
meio. Como fazer a partilha se a terça e a nona parte de 35 também não são
exatas?
- É muito simples –
atalhou o Homem que Calculava. – Encarrego-me de fazer com justiça essa divisão,
se permitirem que eu junte aos 35 camelos da herança este belo animal que em
boa hora aqui nos trouxe!
Neste ponto – diz Malba
Tahan – procurei intervir na questão:
- Não posso consentir
em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viajem se ficássemos sem o
camelo?
- Não te preocupes com
o resultado, ó Bagdali! – replicou-me em voz baixa Beremiz – Sei muito bem o
que estou a fazer. Cede-me o teu camelo e verás no fim a que conclusão quero
chegar.
Tal foi o tom de segurança com que ele me falou, que não tive dúvida em entregar-lhe
o meu belo jamal [camelo] que imediatamente foi reunido aos 35 ali presentes, para serem
repartidos pelos três herdeiros.
- Vou, meus amigos –
disse ele, dirigindo-se aos três irmãos - fazer a divisão justa e exata dos
camelos que são agora, como vêem em número de 36. E, voltando-se para o mais
velho dos irmãos, assim falou:
- Deverias receber meu
amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade de 36, portanto,
18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saíste lucrando com esta divisão. E,
dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou: - E tu, Hamed Namir, deverias receber um terço
de 35, isto é 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é 12. Não poderás
protestar, pois tu também saíste com visível lucro na transação. E disse por
fim ao mais moço: E tu jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai,
deverias receber uma nona parte de 35, isto é 3 e tanto. Vais receber uma nona
parte de 36, isto é, o teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me
pelo resultado! E concluiu com a maior segurança e serenidade:
Pela vantajosa divisão
feita entre os irmãos Namir – partilha em que todos três saíram lucrando –
couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um
resultado (18+12+4) de 34 camelos.
- Dos 36 camelos, sobram,
portanto, dois – disse Beremiz. Um pertence como sabem ao bagdáli, meu amigo e
companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido a contento de
todos o complicado problema da herança!
- Sois inteligente, ó
estrangeiro! – exclamou o mais velho dos três irmãos. – Aceitamos a vossa
partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade!
E o astucioso Beremiz
– o Homem que Calculava – tomou logo posse de um dos mais belos jamales do
grupo e disse-me, entregando-me pela rédea o animal que me pertencia: - Poderás
agora, meu amigo, continuar a viajem no teu camelo manso e seguro! Tenho outro,
especialmente para mim!
E continuaram a nossa
jornada para Bagdad.
Fica para si amigo leitor a tarefa de explicar o manifesto milagre, que não podemos deixar de atribuir ao amigo Jeremi ou talvez a Allah ou ao seu santo profeta Maomé.
_________________Tota a história e todo o romance aqui; http://www.coordenacaopedagogica.com.br/file.php/1/PAS_2009/Livro_-_Malba_Tahan_-_O_homem_que_calculava_ilustrado_.pdf
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