Íamos jogar futebol ou acabáramos de jogar? Os outros não queriam perder o espectáculo de tais craques ou simplesmente acompanhavam amigos e namorados? Corria o ano de 1963, segundo as melhores avaliações, e o local é o campo de futebol da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Aquilo é que eram tempos...! É a lenga lenga do costume e a única razão para tais lamúrias é porque estávamos em melhor forma que agora. E tínhamos um mundo de promesas pela frente. Esse tal mundo não se revelou tão auspicioso para a humanidade quanto se desejava.
Destes 21 jovens 13, todos rapazes, são estudantes do IST. As raparigas dividem-se por Letras, Ciências e o último ano do liceu. Salvo melhor opinião que nestas coisas nunca se sabe tudo, há três pares de namorados. (Hetero. Que na altura, outra combinação... nem pensar em tal semelhante (publicamente). Homosexualidade era tabu, escândalo, talvez doença e perversão a pedir castigo) Dois casaram e continuam casados até hoje. Que botas de elástico, dirão os mais modernos. Para a moral daquela altura é virtude. Para os costumes de hoje é um escândalo. O outro par não chegou a casar. Ou melhor, cada um casou com outro ou outros parceiros, um de cada vez que a evolução dos costumes ainda não chegou a tanto.
É tudo gente das associações de estudantes. Nas aulas aprendem o ofício. Na Associação cultivam o espírito. E o corpo. Na Secção Cultural familiarizam-se com o mundo das artes plásticas, da música, da poesia, da literatura em geral. No CUJ convívem com o Jazz, no Cineclube Universitário absorvem a cultura que vem "lá de fora", progressista, a que passa no crivo da Censura Prévia da ditadura fascista (passe o termo, para os que se agoniam com ele ou para os preciosistas que acham que a nossa ditadura não é bem fascista, por não acompanhar o paradigma mussuliniano ou hitleriano. O nosso fascismo é beato, é rural, usa botas e reza o terço). Mas, dizia eu, quem se ficasse pelas aulas no IST seria engenheiro mas quase certamente não obteria a formação cultural e humanística dos associativos. E não se descurava a educação física nas aulas de ginástica três vezes por semana, nas equipas de andebol ou basquete. Duas mesas de ping-pong eram a delícia dos amantes da modalidade se bem que outros passassem o tempo de lazer a modularem as capacidades estratégicas no xadrez com a técnica da simplificação do magistral Capablanca, cubano e campeão mundial dos anos 20 ou a da complexização do não menos célebre campeão russo Alexander Alekhine.
Mas talvez a grande estrela dos saberes oferecidos pela Associação de Estudantes fosse a política exercitada nas assembleias gerais, nas reuniões culturais, nos convívios e por detrás das vistas públicas, nas reuniões clandestinas já a arriscar forte na luta pela liberdade, pela democracia. Muitos daqueles já frequentam o comunismo que oferecia Lenine, revolução e quase certamente PIDE e prisão, Caxias ou Peniche.
Daquele simpático grupo pelo menos cinco rapazes conheceram a prisão e a tortura. Quatro tiveram de passar a viver na clandestinidade, dois e uma ou duas raparigas tiveram de seguir para o exílio.
Estão todos vivos excepto um. Descobriram - lhe um cancro. Daqueles fulminantes. Conviveu com a morte anunciada durante uns dois anos até que os médicos reconheceram que se tinham equivocado. Mas mais tarde, encontrando-se em Moçambique, um ataque de coração não lhe deu mais oportunidades. Era necessária uma intervenção cirúrgica urgente. O hospital competente mais próximo era na África do Sul, e Africa do Sul não chegou a tempo.
Médicos, engenheiros, professores, historiadores, políticos, empresários, jornalista da rádio e televisão, no masculino e no feminino.
Os vinte distribuem-se no espectro político pátrio pelo PCP (incluindo pelo menos dois dirigentes nacionais), pelo BE (um dos principais dirigentes), pelo PS (um dos quais foi ministro do primeiro Governo de Sócrates) e talvez, mas já poucos, pela ala mais à direita.
A movimentação da fotografia pelo "éter" da web deu origem a um outro movimento, este para juntar todos os ex-colegas numa nova fotografia, mas mais vestidinhos, de preferência num restaurante e se se achar conveniente um pouco desfocada.
Os promotores procuram identificar, na fila de pé, o 2º, a 6ª e o 9º retratado, a contar da esquerda.
Alvíçaras a quem os identificar e deixar forma de contacto, na caixa de comentários.
[Um clique com o rato sobre a fotografia dá às raparigas um outro glamour e à imagem uma generosa ampliação].
3 comentários:
Boa tarde,
O meu nome é Alexandre Ventura e sou aluno de mestrado em História Contemporânea na FLUP e desenvolvo uma tese que aborda a ARA, seria possível facultar-me o contacto do Raimundo Narciso para o entrevistar?
Cumprimentos,
Alexandre Ventura ventura0072@gmail.com
917303014
Raimundo
Só agora li o teu texto.
Penso que já estão todos identificados menos a rapariga entre a Noemia e a Paula. Teres falado apenas das passagens pela prisão dos rapazes é um resto de machismo que te ficou. A Teresa tambném esteve presa em Caxias ( cf caminhodesalomão), mesmo assim a primeira reunião pode continuar a ser em minha casa. Até Sabado
Um grande abraço
Meu Caro anónimo essa do "machismo" como uma explicação para concluires que eu apenas consideraria dignas de referência as prisões de homens e não as de mulheres não lembraria ao diabo. Então, na tua santa ignorância da razão da omissão não teria sido mais simples admitir que eu, pura e simplesmente, não sabia que a Teresa tinha sido presa!! Ai ai ai, ai ai!!
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