Gravura de Dias Coelho, assassinado por uma brigada da PIDE, numa rua de Lisboa, em 19 de Dezembro de 1961 [por gentileza da Fundação Mário Soares].
O
Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! vai concretizar, em pedra e cal, um
dos seus objectivos: assinalar para os presentes e vindouros que no Tribunal da
Boa-Hora, em Lisboa, funcionou, de 1945 a 1974 um arremedo de justiça,
designada por “tribunais plenários”.
Convém recordar que no dia 24 de Abril de
1974 ainda este sinistro tribunal (?) se reuniu e ordenou ao meirinho para
trazer à sessão os acusados de “acções subversivas, visando o derrube do Estado
Novo”. O meirinho respondeu que não havia acusados, a carrinha que os devia
trazer da prisão de Caxias não chegara e, ao que constava, decorria uma
revolução que tinha por objectivo libertar todos os presos políticos e derrubar
definitivamente o Estado Novo.
Consta que os juízes arrumaram as becas,
recolheram a penates e ficaram assolapados nas suas mordomias, aguardando que a
situação se esclarecesse. Comportaram-se como o camaleão e, tal como ele,
abocanharam a presa. Estes togados, que anos a fio tinham agido com baixeza
moral e sido um exemplo de ignomínia para com a Justiça humana, conseguiram
emergir do pântano da vileza e servilismo para, revestindo-se do manto do
exercício irresponsável da lei, voltar a distribuir a Justiça dos códigos
jurídicos. A maioria reformou-se por limite de idade, mas houve quem chegasse
ao Supremo Tribunal, numa atitude de supremo desplante, que infelizmente nenhum
colega de mister teve a justeza de denunciar publicamente.
Só agora, 32 anos passados, foi possível,
graças a uma nova geração de magistrados, para quem a democracia é o regime
natural das sociedades humanas, reabilitar a dignidades dos muitos resistentes
que ali foram julgados e algumas vezes espancados pelos agentes da PIDE, a
feroz polícia política do regime, no decorrer do próprio julgamento, perante a
cúmplice passividade dos juízes (?) que presidiam à sessão.
A sentença vinha já inscrita na acusação instruída pela própria polícia política. Ela investigava, procedia à detenção, interrogava sem limite nem peias, instruía o processo e determinava a pena a aplicar, que os juízes (?) do tribunal plenário aplicavam com obediência canina – incluindo as “medidas preventivas”, que determinavam a prorrogação automática da pena, de seis em seis meses, se a PIDE o achasse conveniente para “a segurança do Estado”.
A sentença vinha já inscrita na acusação instruída pela própria polícia política. Ela investigava, procedia à detenção, interrogava sem limite nem peias, instruía o processo e determinava a pena a aplicar, que os juízes (?) do tribunal plenário aplicavam com obediência canina – incluindo as “medidas preventivas”, que determinavam a prorrogação automática da pena, de seis em seis meses, se a PIDE o achasse conveniente para “a segurança do Estado”.
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!
sente um legítimo orgulho em poder afirmar que esta denegação da Justiça,
praticada num secular lugar de Justiça vai ser reparada, na medida simbólica
que a história o permite.
No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 17h30, na 6ª Vara Criminal do Tribunal da Boa-Hora, lugar de opróbrio para justiça portuguesa, pois aí funcionaram os famigerados tribunais plenários, vai ser descerrada uma lápide chamando à atenção do visitante para que ali, durante o regime ditatorial do Estado Novo, a dignidade dos homens e mulheres livres foi ultrajada por vis juízes e desprezíveis torcionários.
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! considera um dever de memória a divulgação deste acto, por isso convida-vos a estar presentes na cerimónia de descerramento da lápide e a dar a divulgação que julgamos que este acto merece. Junto enviámos o programa da sessão que decorrerá a 6 de Dezembro próximo. "
No próximo dia 6 de Dezembro, pelas 17h30, na 6ª Vara Criminal do Tribunal da Boa-Hora, lugar de opróbrio para justiça portuguesa, pois aí funcionaram os famigerados tribunais plenários, vai ser descerrada uma lápide chamando à atenção do visitante para que ali, durante o regime ditatorial do Estado Novo, a dignidade dos homens e mulheres livres foi ultrajada por vis juízes e desprezíveis torcionários.
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! considera um dever de memória a divulgação deste acto, por isso convida-vos a estar presentes na cerimónia de descerramento da lápide e a dar a divulgação que julgamos que este acto merece. Junto enviámos o programa da sessão que decorrerá a 6 de Dezembro próximo. "
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