Ata da tertúlia do NAM no VáVá, Conversas de Memória, em 2 de Fevereiro de 2013, sobre
“Notícias sem censura”
“Notícias sem censura”
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Vá Vá… Vá Vá… VáVá… a
Helena Pato tanto insistiu no Facebook para que fossemos que quando cheguei – e
foi à horinha – já não havia cadeiras.
Simpáticos e com sentido apurado de hospitalidade (ou seria sentido comercial?)
o empregado do VáVá foi acrescentando cadeiras e cafezinhos e assim consegui sentar-me.
Lá à frente, na mesa
dos oradores convidados estavam: à esquerda – a bem dizer à extrema esquerda! – o
Sebastião Lima Rego, uma estrela, no tempo próprio, do MRPP, a seu lado estava
a Margarida Tengarrinha uma mulher que foi durante muitos anos dirigente do
PCP, viveu clandestinidades e sofreu o assassínio do companheiro pela PIDE, o
artista e revolucionário – Dias Coelho. A seu lado estava o Manuel Alegre que
ainda estava só à entrada do VáVá porque lhe apontaram um microfone das
televisões para uma declaração não certamente sobre o tema da tertúlia mas
sobre a trapalhada do António Costa que avançou para Seguro mas afinal não
avançou e não se sabe se ainda avança ou já não avança.
A sala estava muito
bonita porque estava lá a Teresa Dias Coelho que é pintora e filha da Margarida
Tengarrinha que também é artista plástica, porque estavam lá as mulheres quase
todas dos órgãos sociais do NAM, a Helena, a Maria Manuel, a Manuela Almeida, porque
estava lá representada a Justiça na pessoa do Juiz Macaísta Malheiros, a Ciência na pessoa do investigador José
Manuel Tengarrinha, a poderosa classe dos jornalistas com o Daniel Ricardo e o António Melo, a
universidade com o Zaluar, a extinta Ação Revolucionária Armada com o António
João Eusébio, a comunidade judaica na pessoa da Lucia Ezaguy. Pessoas ilustres
eram quase todas como o ex-provedor do Telespectador da RTP, José Carlos
Abrantes e até o homem da rua estava representado por quem, com espírito missionário, vos
oferece esta notícia.
A presidente do NAM
abriu “As conversas de memória” explicando que o assunto era “Notícias sem Censura” e ofereceu a
palavra ao moderador Miguel Cardina,
universitário e escritor, um esteio do NAM em Coimbra que veio de propósito
para esta nobre missão e nos mostrou como bem se dirige uma tertúlia de
sedutoras memórias. Para no-las revelar ali estava o Manuel Alegre que nos
relembrou o que foi a Rádio Voz da
Liberdade, órgão da Frente
Patriótica de Libertação Nacional, sediada em Argel, de como ela foi
importante para furar o muro da censura fascista e oferecer aos Portugueses o
que Salazar lhes escondia. Revelou como guardou num cantinho privilegiado da
sua memória a entrevista que fez a um dos homens maiores do continente
africano, o grande dirigente do PAIGC e grande amigo de Portugal Amílcar Cabral, assassinado às ordens da
PIDE. Enalteceu ainda a grande ajuda do governo argelino e o seu exemplar
relacionamento com a oposição portuguesa sem o mais pequeno sinal de
interferência ou instrumentalização da sua atividade no seu solo pátrio.
Referiu além de Boumedien outra das maiores figuras de África, Ben Bela, o primeiro presidente da
Argélia libertada.
A Margarida
Tengarrinha discorreu a seguir sobre a Rádio
Portugal Livre, a voz do PCP, difundida a partir de Bucareste e lembrou que
as suas emissões tiveram início em 12 de Março de 1962 e antecederam as da RPL.
Explicou que o “camarada Álvaro Cunhal” teve um papel primordial na origem da
RPL e também em negociações em Argel e,
já se sabe, “ o Álvaro” foi a alma de muitas outras coisas. A Margarida referiu
e sublinhou várias afirmações anteriores de Manuel Alegre correspondendo assim
à amistosa intervenção deste.
No tu cá tu lá com os
oradores a assistência lembrou como pelo Alentejo dos latifúndios antes de
fechar negócio na compra de um radiozito o compadre inquiria se ele apanhava a
rádio Moscovo Moscavide ou, noutras versões o comprador certificava-se
se o rádio apanhava aquele posto com “a voz da menina”. A “menina” era a
Veríssima Rodrigues, a “camarada” da RPL que tinha uma belíssima voz, cativante e
subversiva.
Da assistência outros lembraram
como os apaniguados da “Situação” amedrontavam quem queria ouvir a RPL, a RVL,
a Rádio Moscovo ou mesmo a menos perigosa BBC, na banda das ondas curtas cheia de agudos e indiscretos rugidos, dizendo
que as polícias tinham aparelhos para detetar quem as sintonizasse. Mas não há veneno que não dê origem ao seu
antídoto e o pessoal do contra logo anunciou o remédio: basta pôr um copo de
água em cima da telefonia. E assim muitos faziam e já sem medo.
As conversas sobre as rádios clandestinas
provocaram-nos uma grande vontade de mais um cafezinho, mais bolos e
torradas e deram lugar ao intervalo com mais beijinhos e abraços aos que
chegaram depois.
A imprensa clandestina
veio a seguir e foi a vez de Sebastião
Lima Rego evocar o papel do “ Luta
Popular”, órgão oficial do MRPP, do seu trabalho nesta frente de agitação,
numa excelente exposição que prendeu a atenção dos presentes. Disse-nos que o jornal clandestino chegou a
ter uma tiragem de 10 ou 12 mil exemplares. Falou-nos da distribuição clandestina
e trouxe ali, da história do MRPP e do “Luta Popular”, entre outros, os nomes
de Saldanha Sanches e Fernando Rosas.
Sobre imprensa clandestina foi de novo a vez de Margarida trazer à nossa
presença a história do “Avante” órgão
central do PCP que venceu sem desfalecimento a barreira das polícias políticas
da ditadura durante 43 anos de clandestinidade. Revelou o papel essencial das
tipografias e dos tipógrafos escondidos na clandestinidade que garantiram essa
proeza por vezes à custa da própria vida como foi o caso de José Moreira morto na PIDE.
Referiu ainda a figura de Maria Machado
e de Joaquim Rafael que começou pela
distribuição clandestina e depois de aprender a ler e a escrever, já
clandestino, foi tipógrafo 25 anos em 30 de clandestinidade.
Foi então a vez de José Hipólito dos Santos, presidente do
Conselho Fiscal do NAM no anterior mandato e antigo e destacado dirigente da
LUAR (Liga de Unidade e Ação
Revolucionária). Eu ouvia, ouvia e esperava a todo o momento que caísse o Carmo
e a Trindade se, é claro, me reportasse a 40 anos atrás.
É que o Hipólito, ao
contrário do bom comportamento de Manuel Alegre, Margarida Tengarrinha e
Sebastião Lima Rego que olvidaram compassivamente tudo aquilo que pudesse
trazer à memória as assanhadíssimas guerras que no passado os envolveram em
barricadas opostas, ao contrário, dizia eu, o Hipólito começou ali, em plena
tertúlia sobre “Notícias sem censura”,
com um tiro de bombarda mais estrepitoso que os dos trons com que Nuno Álvares assustou os castelhanos em Aljubarrota: “Curiosamente
- disse ali o José Hipólito - o NAM convidou representantes da Rádio Portugal Livre e da Rádio Voz da
Liberdade e do Avante, órgãos onde se exercia uma feroz censura contra tudo o
que não fosse de iniciativa do PCP ou da FPLN que ele controlava”. E depois
prosseguiu indo lá trás ao anarco-sindicalismo e mais próximo à sua LUAR.
Talvez por estarmos em pleno campo de batalha com o inimigo comum à vista (refiro-me ao governo dos mercados, aos Passos , aos Relvas, aos Gaspares, aos Moedas e aos Borges) ninguém desembainhou a espada para terçar armas no VáVá e a tonitroante crítica foi recebida com uma cordata bonomia e a intervenção do Hipólito apanhou tantas palmas como as outras.
Talvez por estarmos em pleno campo de batalha com o inimigo comum à vista (refiro-me ao governo dos mercados, aos Passos , aos Relvas, aos Gaspares, aos Moedas e aos Borges) ninguém desembainhou a espada para terçar armas no VáVá e a tonitroante crítica foi recebida com uma cordata bonomia e a intervenção do Hipólito apanhou tantas palmas como as outras.
Afinal a intervenção
do Hipólito foi como que a cereja no bolo na “conversa” do NAM sobre “Notícias sem censura”.
A Helena Pato,
presidente da direção do NAM, está de parabéns pois conseguiu pôr a conversar
pessoas que há 30 ou 40 anos seriam tratados uns como sociais-fascistas e
outros como agentes da CIA.
Mas as surpresas não terminaram aqui, já perto do fim vejo aproximar-se da entrada um sem-abrigo, espreitava, hesitava quando a meu lado alguém lhe aponta o dedo e sonoramente anuncia “é o Ulrich, é o Fernando Ulrich!”. De facto balbuciava "ai aguenta aguenta" mas não consegui confirmar. Se de facto era ele terá concluído não se tratar de nenhuma reunião de banqueiros "sem-abrigo" e afastou-se.
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Mas as surpresas não terminaram aqui, já perto do fim vejo aproximar-se da entrada um sem-abrigo, espreitava, hesitava quando a meu lado alguém lhe aponta o dedo e sonoramente anuncia “é o Ulrich, é o Fernando Ulrich!”. De facto balbuciava "ai aguenta aguenta" mas não consegui confirmar. Se de facto era ele terá concluído não se tratar de nenhuma reunião de banqueiros "sem-abrigo" e afastou-se.
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Caros amigos a ata não
só não foi submetida a aprovação como qualquer eventual imparidade (imparidade… hum…? Soa bem!) entre o que digo e a realidade é, sem dúvida, culpa desta.
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