O momento, a hora, o sol esquivo mas a ajudar,
acenos, abraços, o VáVá, memórias de braço dado com o odor do cafezinho
volteando por cima das mesas, a Helena Pato, a Lúcia Ezaguy, o Artur Pinto, a
Mané Ricardo, a Teresa Melo Sampaio e o Coronel Luís Sequeira que não via há tanto tempo!, eu a entrar e a não entrar para dar um
beijinho à Flor Pedroso que ia ouvir o tio Pedroso Marques coronel da revolta de
Beja, o Jorge Martins que é historiador a moderar ainda calado, a Luísa Corte
Real que a Manuela Almeida tratou por Luísa Abreu e confundiu a Maria Machado que
não sabia que o falecido marido era Abreu e a Helena Cabeçadas, a Manela e o
Camacho, és da família do Brito Camacho? Não, parece que não, a Maria a
puxar-me lá para dentro e eu cá fora na explanada a lembrar-me do VáVá de
antigamente, a Noémia que não vinha e depois veio e julgava que era só às 6
horas mas era às 4 e assim não foi a primeira a falar e o primeiro a falar foi
o António Melo que primeiro leu o papel que o António Almeida enviou pela
Manela e a seguir contou-nos o seu exílio e como se aprendem coisas lá fora sobre
cá dentro e que não esquecem. Quando ele findou e terminaram as palmas
contentes com o seu exílio levantou-se a Ana Benavente a seu lado e à minha
frente, na mesma mesa e disse como ela se exilou desse pequenino e antigo mundo que
era o Portugal de sacristia e Santa Comba Dão e disse dela exilada na Suíça e
como foi chocante saber que contrariamente ao que lhe ensinaram aqui, os
católicos eram os mais atrasadinhos, viu com os seus olhos na Suíça e que
afinal os protestantes é que foram e eram a modernidade. Juntou-se às mulheres
e aos homens de todos os países, libertou-se e explicou que o Maio de 68 lhe
deu uma nova esperança. Na mão o livro dela, Pátria Utópica, dela e do Eurico
Figueiredo e dos outros e onde o Medeiros Ferreira revela que “tinha um projeto
político para Portugal“ que assim ficava prejudicado com a sua partida para o
exílio no verão de 1968, quem sabe talvez não tivéssemos agora o Passos e o Relvas e os amigos
de Cavaco do BPN, quem sabe... Se eu fazia ideia que ele tinha um plano
para Portugal! e esta gente toda dos exílios sem nenhum plano para Portugal?
Depois lá do fundo da sala falou Veiga Pereira, dissemos não se ouve nada e ele disse mais alto e prendeu-nos às suas palavras de largo saber e experiência. Revelou por dentro o exílio de muitos exílios. Segui-se-lhe o coronel Pedroso Marques, sentado à sua direita, que esteve na revolta de Beja, na revolta
do Portugal salazarento e viajou por esse mundo de exílios. E o Jorge Martins
avisava, ameaçador, só tens mais um minuto e o minuto passava depressa e não
deixava ouvir tudo e que era de muito interesse saber. Como a Noémia não chegava a Helena Pato levantou-se e anunciou
intervalo para merenda e mais café que algumas trocaram por cerveja e outros pediram
um prego e eu estive para pedir um copo de leite como o Joaquim mas pedi afinal
outro café com um bolo à pressa.
A segunda parte dos exílios começou com a Noémia
de Ariztia que mal chegara durante o intervalo e, sem ter ouvido os outros,
julgando-se a primeira a ter de falar protestou: logo eu assim de chofre!? e o Jorge Martins deu ordem para prosseguir
que em dez minutos o tempo voa e ela explicou que se exilou do Salazar e depois
de uma belas voltas pela Europa casou com o Francisco de Ariztia amigo do Salvador
Allende e foi para a terra dele e depois teve de se exilar do Pinochet. O Francisco, que veio com ela, sentou-se no outro lado da sala a observar tudo com um olhar longo como os cinco mil quilómetros que o Chile tem de alto a baixo. Exílio
atrás de exílio salvou-se a Noémia com o 25 de Abril e acabou tudo ali no Vá Vá mas só depois da
Helena Pato dizer que agora todos os primeiros Sábados de cada mês, ali mesmo, às
4 horas, há mais memórias à nossa espera para nos inspirarmos e melhor corrermos
com esta trupe malsã do governo que lança Portugal no “exílio”. Ou ela disse ou
eu assim entendi.
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