2004/06/23

Nos Bastidores da Festa do Causa Nossa

A festa tinha o nome de Solstício de Verão e num post de Vital Moreira chegou mesmo a falar-se em festa PAGÃ! Que para mim foi uma primeiro aviso. Depois, a confirmar que a festa tinha muito que se lhe diga e não era tão inocente como uma leitura apressada poderia induzir, havia o facto de ao lado do LUX, mesmo mesmo ao lado estarem atracados os três navios (Navios Fantasmas?)do Roman Abramovitch (Três navios! Não era um ou dois. Atenção eram TRÊS!?) o Navio-Escritório-de-Negócios, o Yate-de-Luxo-Residência-Serralho-com-Helicóptero e o Yate-Navio-de-Apoio. É que podiam estar muito bem atracados noutro sítio. Mas não, estavam ali encostadinhos ao LUX. A tal ponto que uma pessoa até se engana.
Por exemplo, eu ao chegar vi logo por ali o Vital Moreira e a Maria Manuel. Até para ser verdadeiro vi primeiro o Daniel Oliveira - Olá tás bom que é feito, só sei de ti pelo Barnabé quando é qu'apareces. Ah! Lá na Assembleia da República!! Ah tá bom atão vou lá um destes dias almoçar contigo. Ao restaurante dos deputados. O Vasco pulido Valente quando lá esteve dizia que se comia mal como um raio até tinha de ir almoçar ao Gambrinos.
Mas, voltando ao caso intrigante do Causa Nossa. Mal cheguei vi os barcos, quero dizer os navios (se algum oficial da Armada ouvisse chamar barco a um navio, aqui del rei...caía o Carmo e a Trindade) vi os navios e esqueci-me logo do LUX. Enfiei pelo Yate grande acima. Mas qual quê quando já via lá dentro odaliscas daquelas de fazer tremer Mães de Bragança, salta-me ao caminho um batalhão de seguras a dizer davai! davai! de kalachnikovs em punho que se não fosse eu a dizer izvinitz tavarichis, tavarishis nyet, emendei logo, lembrando-me que agora era Putin e não Brejnev. Voltei para trás e lá embiquei para o LUX.
Entrei, parecia tudo normal, aqueles bloguistas todos a conversar, a Ana Gomes explicava como foi aquilo em Jakarta, o Vicente Jorge Silva contava aquelas coisas todas que a gente sabe lá do Parlamento. Tudo aparentemente numa boa. Mas sentia-se no ar que alguma coisa de muito estranho percorria o LUX.
Eis senão quando com um ar muito natural a fazerem-se passar por bloguistas entra um tipo que devia ser o chefe, óculos escuros, mesmo ali, de noite, todo de preto da cabeça aos pés a faiscar dos anéis, das pulseiras e atrás, disfarsados, uma dúzia de capangas, metade mulheres, mas daquelas que se vê logo que sabem do karaté.
Como é que entraram? Pois eram italianos, sotaque napolitano e alguns claramente com sotaque siciliano, disseram para o porteiro Cosa Nostra? Cosa Nostra? Porteiros sem formação adequada ao pós 11 de Setembro, caiu logo na esparrela a julgar que eles eram convidados do Causa Nossa.
Só quem estava atento é que via. Espreitavam tudo. Uma até espreitava por detrás dos espelhos para ver se eram portas falsas, mas como quem compõe o baton. O tipo do bar que estava encarregado de nos dar uma cervejinha por conta do Causa Nossa e atenção da Sagres, não estava a ver nada do que se passava e também lhes deu umas fichas para a sagres. Primeiro iam a recusar depois viram que toda agente aproveitava também beberam.
Eles próprios não estavam a perceber nada do que se passava. Num primeiro tempo pensaram que o Abramovich convidara a quela gente toda para servir de biombo ao negócio e por detrás dos espelhos deviam-se abrir mangas, estilo aeroporto, que levariam directamente ao Yate-Grande-do-Serralho-e-helicóptero.
Quando perceberam no logro em que estavam sairam porta fora à pressa para procurar o dono do Chelsea directamente no Yate.
Tinham perdido muito tempo distraídos com a assistência, a reparar no José Magalhães, na Ana Gomes, no Paulo Querido, na Ana Prata, na Maria Manuel,que estava com um vaporoso vestido vermelho, no Roncinante do blog O Jumento. E isso foi-lhes fatal.
Mal saltaram na rua, quer dizer no cais, porque ali a rua era o cais, dez metros até os Yates-navios-russos. Quando avançam para os navios já não havia hipóteses, uma barreira fechada dos nossos homens do GOE, de pistola metralhadora em punho, cara tapada com uma meia preta, só os olhos à vista, que a bem dizer nem se viam bem. Um aspecto terrível que até para aquela gente Napolitana e Siciliana metia respeito. Eu segui-os como quem não quer a coisa a toscar tudo. Senti um certo orgulhozinho nos nossos homens do Grupo das Operações Especiais.
Os falsos bloguistas reuniram-se em círculo em torno do que devia ser o chefe, a planear a estratégia e segundos depois afastaram-se radialmente, em todas as direcções, menos na dos navios para evitar o choque com os Goes.
Lá na festa do Causa Nossa continuava tudo em festa sem se aperceberem de nada. Foi aí que me valeu por um lado conhecer o nome dum dos capitães do GOE. Dei um toque conspirativo num praça e pronunciei o nome do capitão. Não digo o nome para não o comprometer. Abriu-me logo passagem e lá em cima aos russos de má catadura abri um sorriso e repeti Causa Nossa Causa Nossa. Eles que percebem um pouco de siciliano calcularam que era Cosa Nostra apalparam-me de alto a baixo, viram que vinha desarmado, levaram-me directo ao Abramovich. Recebeu-me de braços abertos julgando-me emissário dos outros. Tentei falar com ele em russo mas pareceu-me que não dominava bem a língua - será Checheno ou é do meu russo? - pedi intérprete e vieram três loiraças (atenção três, sempre às três, como os navios!!! É um número cabalístico!!! disso sei eu). As loiras, meu Deus, aquilo é que são verdadeiras eslavas. Razão têm as Mães de Bragança em não andarem descansadas.
Numa pergunta bem calculada perguntei-lhe que raio era aquilo do GOE todo lá em baixo. Não fiz perguntas à toa era tudo perguntas com um segundo sentido ou que podiam ter muitas interpretações. Por isso o Abramovitch com um manto de arminho branco pelas costas, que a noite pusera-se fresca, numa pose entre o "negligé" e o Ivan o Terrível, do filme do Eisenstein, com certeza para me impressionar, a julgar-me um emissário do outro bando respondeu-me achando perfeitamente natural a pergunta, que os seus homens tinham visto o grupo esgueirar-se para o LUX em vez de irem ao barco pensou que estariam a tramar alguma, porque é claro nunca se sabe...
Pois - disse eu aguentando a parada - mas o GOE? O GOE é uma força especial da PSP do Estado Português, enfim são bófias. Bófias metidos nisto!? Qual não é o meu espanto quando ele me diz: comprei o GOE. Comprou o GOE? Disse eu de boca aberta quase interdito de espanto. Sim comprei-o com a Quinta das Àguas Livres e tudo. Sabe como eles estão aflitos com o orçamento. Esse Manuel Ferrer Lete. Ofereci-lhes um número que eles não podiam recusar. Já não tinha palavras, só abanava a cabeça.
Então e agora? Perguntava eu a ver se ele se descaía com qualquer coisa.
Agora? Então agora nada, o negócio está de pé, mantenho a minha. 51% para mim 49% para vocês. 51% repetia eu devagarinho sem atinar. Mas sempre é possível avançar? Dizia isto para não estar muito tempo calado e a tentar perceber de que raio se trataria. Está tudo bem encaminhado - continuou o Abramovitch de sorriso confiante. O Pinta da Costa está de acordo já falou com o Karlous Tavarichi e com o primeira ministro. Mantém-se o preço.
Aí fez-se luz no meu espírito. Olha os cabrões disse baixinho, comprou o GOE e agora quer comprar o Futebol Clube do Porto. Ah pois, pois - ia gaguejando eu já a levantar-me. Mas está incluido o estádio? Claro, está tudo. E assim aproveito o Yosef Mourinha para os dois.
Vim embora. Mas ainda consegui passar a mão pela intérprete mais a jeito. Só para ele não se ficar a rir. Uma coisa de nada assim como o Ieltsin, no palácio do Kremlin. Já nem voltei ao LUX. Se chego lá acima e conto isto...gente de blogs... nem perceberiam nada do que é que eu estava a falar. Além do perigo, claro.


Esta foi uma das centenas de cartas que aqui no Memórias do Presente recebi dos nossos leitores sobre a festa do Causa Nossa. Selecionei esta que me pareceu ter um certo interesse de Estado.
A carta é da Júlia Roberta e vinha acompanhada da seguinte observação: Ó Raimundo você que estava lá acha que isto tem algum jeito? Pode lá ser? O Jorge com esta ida ao Causa Nossa ficou mas foi meio passado da tola. Pode tirar-lhe estas patranhas da cabeça?
Sabe conta-me esta história toda pela manhãzinha eu ainda ensonada e a querer virar-me para o outro lado. Oh Júlia. Júlia! Tás-ma ouvir ou tás a dormir. Oh gaita. Tou a dormir. Deixa-me em paz. Acorda lá. Ontem não te contei nada mas não estou descansado com isto. Não posso guardar isto só para mim.
E no fim pergunta-me o que é que eu achava.
Acho que estás maluco. Olha vai mas é tomar um banho frio e aclarar ideias. O Jorge foi e saiu porta fora já atrasado para o escritório.
O que é que acha, Raimundo? Terá sido pesadelo ou ele não estará bem?

Respodi à Julia, por email, que não achava nada. O Jorge lá sabe. Se ele diz... Sabe, acontecem coisas que a gente nem sonha.
Foi o que respondi. Não ia deixar mal o Jorge nem prejudicar o Mistério em torno do Causa Nossa. Mas cá para mim fiquei a meditar, a diferença que faz o capitalismo do socialismo! As oportunidades que cria!! Um self made man com 37 anos, num instante, a fortuna que faz! Até já parece a América.

2004/06/21

Nuno Gomes o nosso Nuno Álvares

Sim é um novo artigo. Mas, reparem, já é quase uma da manhã e amanhã é dia de trabalho. Pois fica para amnhã se houver tempo ou terça o mais tardar